Manhãs de domingo são preguiçosas. Lentas. Pausadas. Contemplativas. Nas manhãs de domingo, o tempo tem o seu espaço. E as coisas parecem que pairam no ar. Você não precisa sair correndo para um compromisso. Tomar um café apressado, ou nem mesmo tomar. Pode, enfim, observar o que ali está. A luz que entra pela janela não é a mesma dos dias de semana. O sol já está mais alto e ela reflete em outros cantos. Revela os detalhes da parede marcada, a sombra da cortina em movimento, a silhueta da cômoda, a poeira na fresta. É meio sonho, meio realidade. Você nem está bem acordado ainda.
Nas manhãs de domingo, você tem mais tempo para fazer um café. Mais tempo para tostar uma fatia pão, passar a manteiga e esperar derreter antes de comer. Você acompanha hipnotizado o vapor do café quente se dissipando no ar. Ouve o som de uma conversa vindo de alguma janela. Sente o cheiro de chuva vindo da rua.
A palavra tempo carrega ‘tem’ no início, mas você só tem o seu tempo em raros momentos. São momentos “Manhãs de Domingo”. Tempo que você tem para perceber a direção que as nuvens se movem. Que os pássaros vêm e vão, montando um ninho na árvore em frente a janela do seu apartamento. Que as folhas na calçada estão na mesma paleta de cores do carro estacionado, do portão da casa em frente e das cores da roupa do senhor voltando da padaria com o saco de pão. Nas manhãs de domingo, você percebe
Fotografia é manhã de domingo. Você percebe. Você estica o tempo pelos segundos para descobrir uma linha nova que se forma. Para perceber uma combinação de cores. Usa o tempo para esperar uma cena se completar, para notar a vulnerabilidade e a fragilidade das coisas que mudam. Ontem foi assim. Hoje é diferente.
Os tempos de quarentena me proporcionaram muitas manhãs de domingo nas terças pela manhã, nas quintas à tarde, nas segundas, nas quartas e sextas. Cedo ou nem tanto. Caminhei por ruas onde nunca caminho, observando o que costumo não notar, esperando uma cena se desenrolar em frente aos meus olhos, buscando a harmonia de uma composição. Com tempo, cada elemento que está enquadrado ganha um papel importante. As bicicletas caídas no chão no pátio de um edifício me contam uma história sobre os seus moradores. Um quadro do Elvis na parede de uma casa de janelas abertas, também. Uma tempestade que se aproxima, mas não afasta quem está determinado em confrontar o tempo... e as folhas no chão que formam um sorriso na minha sombra é quase uma reflexão deste processo todo.
Aos poucos, tudo se organiza e ganha sentido. Não existe fotografia sem tempo. Não existe fotografia sem observação. Não existe fotografar sem as manhãs de domingo.
FOTOGRAFIA EM LONDRES
Para quem gosta de fotografia de rua, Londres tem muitas opções. Minhas áreas preferidas são o Soho, principalmente à noite, onde tem muitas luzes e personagens diferentes nas ruas, e Shoreditch e Hackney no East. E para quem gosta mais de fotografia turística, o Southbank do rio Tamisa também tem uma vista muito interessante pra cidade. Outro lugar para apaixonados pelo assunto é a Photographers Gallery, também localizada no Soho, próxima a Oxford Circus. Se quiser ver umas fotos diferentes da cidade, outra dica é seguir o perfil do fotógrafo de street photography de Londres @joshkjack no Instagram.
(*) Eduardo Boldrini é publicitário de profissão e fotógrafo de coração. Gaúcho, residente em Londres, atualmente trabalha como freelancer para agências de publicidade na Europa. Usando a fotografia para retratar o cotidiano, com foco na estética da fotografia de rua e documental, @boldrini estudou no London Institute of Photography e Magnum Paris.