Estamos numa Nova Era onde as empresas estão em transformação, devido à enorme mudança provocada pela massificação da tecnologia e empoderamento do cliente através do uso dos smartphones. Sendo essa transformação digital, as empresas estão preocupadas com o futuro, com o novo, e precisam de pessoas com aptidão para trabalhar em equipe e capacidade de resolver problemas de forma cada vez mais criativa.
É justamente neste contexto que entra a mentoria, como prática que pode assistir estas organizações na construção de uma cultura corporativa, enquanto habilita a carreira daqueles que já estão motivados e orientados ao novo mundo.
SE PREPARAR OU ADAPTAR?
Especialistas em inovação sabem que é tarde demais para preparar o corpo diretivo e treinar ou capacitar pessoas para levar o negócio ao próximo nível. É preciso se adaptar a um cliente diferente, a um mundo onde a velha forma de fazer negócios está em desuso ou simplesmente ninguém quer mais.
A prática de mentoring é altamente eficaz e eficiente para encurtar a curva de aprendizado de novos executivos, e prover colaboradores de conhecimento, inovação e novas perspectivas. Novos executivos trabalhando como mentores se tornam diferentes e têm o benefício de uma experiência riquíssima ao explorar e navegar em situações que podem não ser familiar. Baseado numa relação de confiança, a experiência de mentorados com executivos e empreendedores experientes pode oferecer um lugar seguro para testar novas ideias, resolver problemas de forma criativa, colaborar, enquanto continuam a focar em suas necessidades individuais de desenvolvimento.
Trabalhando com centenas de startups, que geralmente tem um board de empreendedores de idade entre 22 e 35 anos, podemos ver o poder de uma conversa franca com executivos, sobre experiências e descobertas em diferentes situações ao longo de uma carreira como executivo-corporativo. Ao mesmo tempo, estes executivos acabam descobrindo novas formas de fazer negócios, de resolver problemas com tecnologias transversais, como inteligência artificial, blockchain, realidade virtual, e esta troca pode ser enriquecedora, tanto para o mentorado como para o mentor.
Enfim, o impacto que uma cultura de mentoria pode fazer numa organização pode ser incrível, e ela difere do coaching, trazendo valor de uma abordagem diferente e estruturada, focada em melhorias, com muita colaboração e criatividade.
MENTORIAS DE SUCESSO
De acordo com Edward E. Lawler III, no seu livro “Managing Talent: Making People Your Competitive Advantage”, a fonte da vantagem competitiva mudou em muitas organizações, da confiabilidade à inovação e flexibilidade. Mas o que é preciso para uma organização inovadora gerenciar efetivamente? Nesse caminho de “Built to Change”, Ed Lawler argumenta que é uma combinação da estrutura certa e das pessoas certas, e descreve a estratégia de capital humano para cada abordagem, fornecendo a base e as ferramentas para a criação de organizações competitivas e inovadoras.
Nossa experiência com inúmeros programas de aceleração corporativa, (intra) empreendedorismo e conexão de startups com a indústria, mostra claramente que, enquanto algumas empresas obtém sucesso com estas iniciativas, para outras ainda é um desafio criar aptidão em seus talentos para trabalhar em colaboração e criar um senso de coletivo, de forma que os gerentes e a liderança sejam capazes de resolver problemas e desafios da indústria com criatividade.
Nestes novos tempos, em que nossos competidores estão muito mais próximos do que aparecem no retrovisor, reter talentos ainda permanece um desafio. Organizações que usam o potencial desta experiência de inovação aberta, com um compromisso de colaboração e construção coletiva, podem ter nos programas de mentoria formas eficientes de encontrar e manter seus talentos, muitas vezes em áreas que recursos humanos e o board não veem.
Às vezes, eles vêm de áreas que não tínhamos a menor ideia de que seria possível. E estes novos talentos demonstram frequentemente seu compromisso e aderência com a cultura organizacional, compartilhando sua visão e paixão.
O VALOR DE UMA BOA MENTORIA
Portanto, em vez de apostar na liderança do futuro, o sucesso de uma organização pode ser facilitado com a criação de uma cultura de mentoria que esteja estruturada para entregar resultados específicos. Uma estrutura bem montada assegura que ambos, mentor e mentorado, sejam cuidadosamente aproximados e identificados baseado em seus objetivos, habilidades e necessidades, e seus desejos em participar de projetos de co-criação, colaboração e coletivo para garantir o sucesso destas organizações no futuro.
Um mentor precisa acreditar no seu mentorado, pessoal e profissionalmente, e deve preencher o gap de conhecimento, buscando sempre oportunidades que levem ao crescimento e ao sucesso. Um mentor deve ser alguém com quem se possa baixar a guarda, compartilhar suas incertezas e fazer aquelas perguntas que podem parecer estúpidas que todos fazemos de vez em quando.
Enfim, quando mentor e mentorado atendem uma sessão de orientações, para aprender um sobre o outro e juntos criar um acordo e um plano de aprendizado pessoal, o relacionamento tem mais probabilidade de dar certo.
MENTORIA E ATENÇÃO PLENA (MINDFULNESS)
Nós aqui na GROW, trabalhando com centenas de startups em programas de aceleração e na gestão de investimentos, usamos com frequência o termo “O Jóquei e o Cavalo” para explicar que muitas vezes um bom cavalo com um jóquei ruim tende a não dar certo, e um cavalo mediano com um jóquei bom está frequentemente na final. Um mentor não deve criar estes acordos pensando somente no cavalo, ou no negócio pilotado pelo empreendedor-mentorado. Ele deve, sim, considerar uma perspectiva de mentoria sob o ponto de vista de crescimento do negócio, mas também na evolução espiritual, pessoal e profissional, quase sempre ávido por receber conselhos de um mentor experiente e habilidoso, uma pessoa com atenção plena mindful.
Assim como mentoring, o mindfulness, ou atenção plena, é estudado há décadas em importantes centros de pesquisa, e vem ganhando cada vez mais espaço em empresas e programas de liderança. Segundo Ellen Langer, fundadora do Langer Mindfulness, nos mais altos níveis de qualquer campo de atuação – os 50 maiores CEOs da revista Fortune, os artistas e músicos mais talentosos, os atletas de elite, os melhores professores - você encontrará pessoas agindo com atenção plena, porque é a única maneira de chegar lá :)
Praticar mentoring com mindfulness pode trazer muitos benefícios para o mentor e mentorado, e incluem mais criatividade, melhor desempenho profissional e autoconsciência, além de serenidade para lidar com conflitos e imprevistos. Impô-las às pessoas de modo autoritário, desvirtua a natureza destas práticas e frustra as pessoas que poderiam se beneficiar de seu uso por livre e espontânea vontade.
Seja um mentor. Pratique mentoria.
Paulo Beck é administrador de empresas, empreendedor em série, investidor anjo e executivo corporativo. Com uma ampla trajetória em empresas multinacionais, como a Hewlett-Packard, Paulo é um evangelista e estrategista de diversos programas de inovação, transformação digital e aceleração corporativa. Como investidor e mentor em diversas aceleradoras de startups no Brasil, tem estruturado fundos de investimento semente nas áreas da saúde, finanças, varejo e agro, e participado de inúmeras bancas de avaliação para mentoria e aconselhamento de startups. Atualmente é CEO da GROW, uma aceleradora de startups premium dedicada a alavancar startups em estágio de crescimento.
@pauloricardobeck / www.growplus.com.br