Arte - Fábio André Rheinheimer

QUATRO ARTISTAS E UMA AMOSTRA DE SUAS CRIAÇÕES

Fábio André Rheinheimer*
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SONS E LUZES DE MARCELO LEAL

    A trajetória de Marcelo Leal, nas artes, pode ser definida como um encontro feliz entre música e fotografia. Na música, sua atuação ocorre a partir de 1981, e, desde 1987, integra o Quarteto de Jazz e Música Instrumental Versão Brasileira (GVB), com diversas apresentações no currículo: Prêmio Açorianos de Literatura; 1º Heineken Festival de Jazz de Porto Alegre; entre muitas outras. 

    Em 2013, Leal gravou “Mãe & Filha”, seu primeiro trabalho autoral. “Resolvi dar mais um passo e colocar algumas ideias musicais no papel”, discorre o artista. Já a arte da fotografia está repleta de saborosas memórias familiares: “a paixão pela fotografia vem desde a minha infância através do meu avô e depois do meu pai”, relembra Marcelo Leal que, sobre novos trabalhos nesta área, comete uma pequena indiscrição: “Tenho uma série que estou me dedicando muito, [...] trabalho com as saturações e texturas gerando uma atmosfera mais surrealista. Tenho curtido muito este caminho.” 

O trabalho deste artista está disponível em: 
Fotos: https://500px.com/marceloleal80
@marceloleal_photogallery
Música: https://soundcloud.com/mr-176

Foto: Sissa Tomasi

REAPROVEITAMENTO EXPANDIDO DE TRIDENTE

Em face dos elementos contemporâneos, orquestrados da cultura Lowbrow, movimento punk, skate e fanzines, que influenciam seu trabalho nas artes, Tridente se autodefine como um colecionador de signos. Visando conscientização ecológica e sustentabilidade, este artista visual desenvolve o conceito “reaproveitamento expandido”.

“A quarentena me trouxe o projeto KaosMAsk2020, onde um cliente pediu uma produção de máscaras faciais com meus desenhos, acabou que viralizou [...]”,relata o artista.
No desenvolvimento da série atual “Patch”, o artista trabalha com fragmentos e descartes [recortes em madeiras, tecidos e objetos unificados], que, unidos, formam uma obra. “Outro trabalho que venho desenvolvendo dentro dessa série são fragmentos de gravuras em xilo e serigrafia desconstruídas e remontadas”, conclui Tridente.

Alguns estudos podem ser conferidos em:
@studiotrasher

Alex Flemming - Fotos: Henrique Luz / Bernd Borchardt

NO ATELIER, COM ALEX FLEMMING 

Artista visual brasileiro radicado na Alemanha

    Alex Flemming, em uma breve entrevista, comenta sobre sua rotina neste período de pandemia, bem como seu processo de trabalho em seu atelier localizado na antiga prisão da STASI, em Berlim (Alemanha). 

Alex, atualmente atuas em Berlim. Como é teu processo de trabalho e onde o realizas? 

AF - Eu sou um artista workaholic. Trabalho todo santo dia. Sempre acreditei que artistas plásticos devam ser caudalosos em sua produção. O importante na vida é produzir, produzir, produzir, produzir e... produzir: nada mais interessa. O que fica de nós é nossa produção: este será o meu resíduo no mundo. Meu atelier fica na antiga prisão da STASI, a polícia secreta da Alemanha Oriental. No verão vou para lá a pé, no inverno de SBahn. 

Tens alguma rotina, com dia e horário específicos? 

AF - Eu acordo sempre muito cedo e vou ao atelier pela manhã. Como muitas vezes dou uma demão de tinta e ela requer tempo para secar, volto para casa à tarde e repito a procissão casa-atelier na manhã seguinte. É incrível como isso mudou: quando era mais jovem, gostava de trabalhar no atelier pela noite, agora vou para a cama cedíssimo, e trabalho com o sol da manhã. 

Como tem sido este período de pandemia? Há algum reflexo em teu trabalho? 

AF - Nessa estranha época de peste que nossa geração infelizmente está vivenciando, tenho tentado me espiritualizar mais, além de haver mais tempo para a introspecção. No meu trabalho, refleti nossa situação na ‘meta-instalação’ que realizei em meu próprio trabalho: nos vidros da Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, onde retratei 44 homens e mulheres da população anônima de minha cidade natal, fiz uma intervenção plástica colando máscaras em cada um de seus rostos. Com isso, espero agregar conhecimento e atenção a todos os usuários do Metrô sobre a necessidade imperiosa de utilizarmos máscaras. Assim protegeremos a nós e aos outros.

“...refleti nossa situação na ‘meta-instalação’ que realizei em meu próprio trabalho: nos vidros da Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, onde retratei 44 homens e mulheres da população anônima de minha cidade natal, fiz uma intervenção plástica colando máscaras em cada um de seus rostos. “
Alex Flemming

Foto: Bernd Borchardt
Fotos: Bernd Borchardt / Sylvia Carolinne

Estás trabalhando em alguma série inédita? 

AF - Eu nunca falo sobre o futuro. Quando trabalho em alguma série nova, não a comento nem a discuto em público até que eu a exponha em alguma mostra. 

Como percebes a influência da pandemia no mercado de arte em Berlim? 

AF - A pandemia traz consequências nefastas para toda a economia, atingindo em cheio o setor das Artes Plásticas. Aqui na Alemanha, no entanto, o governo apoiou os pintores, literalmente, depositando em suas contas bancárias uma quantia em dinheiro (sem retorno, ou seja, não é ‘empréstimo’) que bancasse as despesas de nossos primeiros meses. Como será o futuro, eu não tenho ideia. No Brasil, ainda com um mercado de arte fraco e insipiente, onde as elites dificilmente apoiam a cultura, as perspectivas para os artistas são piores ainda. 

Alex, fale um pouco sobre a tua trajetória, bem como tuas referências (ou influências), e sobre a tua formação. 

AF - É difícil um artista falar de si mesmo, de sua própria trajetória, prefiro deixar para outros o fazerem. Mas digo, aqui, quem são os artistas que eu admiro e nos quais eu tento me espelhar, tendo total consciência de minha pequenez diante deles : Portinari, Di Cavalcanti, Volpi, Alair Gomes, Farnese de Andrade, Flavio de Carvalho, Almeida Junior, Victor Brecheret, Goeldi, o Pedro Américo da ‘Batalha do Avaí’, o Vitor Meireles de ‘Moema’. Sem falar das estrelas máximas como Aleijadinho e Manuel da Costa Ataíde.

Para apreciar o trabalho deste artista, confira em:  https://alexflemming.com.br

Foto: Bernd Borchardt

CRIAÇÕES DE CHARLOTTE SAGORY

Artista transforma papel em arte

    Veuve Clicquot, Nina Ricci Parfums, Centre Pompidou, L’Occitane são alguns clientes da talentosa Charlotte Sagory, artista que transforma papel em arte. Gentil e acessível, Sagory fala a esta coluna sobre seu universo criativo, clientes e sua rotina em Paris. 

Charlotte, teu trabalho é descrito como cenografia, criação de instalações efêmeras ou perenes no teu site. Tens alguma formação acadêmica nesta área?

CS - Na verdade, não há formação na França sobre Paper Art, é algo que você aprende fazendo e testando. Me formei em design de moda, e depois comecei a trabalhar com editorial de moda e cenografia, foi assim que comecei a fazer coisas para pequenos editoriais com orçamentos deficitários. 

Quando começaste a trabalhar com papel? Por que escolheste este material? 

CS - Eu estava trabalhando com Lisa Gachet para www.makemylemonade.com (no começo era um blog de lifestyle com muito “Faça Você Mesmo”). Um dia, um cliente solicitou que desenvolvesse alguns objetos em papel, e foi assim que minha aventura começou! Depois que entendi como transformar um padrão 2D em um objeto 3D, comecei a adorar isso. Adoro papel porque é um material muito presente no nosso cotidiano, com muitas cores e possibilidades. 

Tens alguma rotina? 

CS - Na verdade não, alguns dias tenho muitas reuniões e passo meu tempo cruzando Paris! E alguns dias eu fico no meu estúdio trabalhando em projetos o dia todo e o tempo voa! 

Como é o teu processo de trabalho? 

CS - Alguns dos meus clientes sabem exatamente o que querem, então faço alguns protótipos e depois encaminho para a produção. Mas prefiro quando os meus clientes têm um tema, mas estão abertos a propostas: faço moodboard, e propostas diferentes, depois inicio a produção. Tenho muita sorte que meus clientes realmente confiam em mim e me divirto muito trabalhando nesses projetos. 

Quais são as tuas referências artísticas? Existe algum artista especificamente que admiras? 

CS - Eu realmente não tenho referências de arte, eu realmente amo arquitetura vintage e cores. Me inspiro muito no trabalho do Wes Anderson, meu sonho é trabalhar para ele!

“Na verdade não há formação na França sobre Paper Art, é algo que você aprende fazendo e testando. “
Charlotte Sagory

Fotos: Simoné Eusébio para Made My Lemonade / Vittoria Bermagaschi / Charlotte Sagory
Foto: Pauline Darley

Como começas um novo trabalho? 

CS - Realizo algumas pesquisas sobre o objeto que tenho que fazer, observo de diferentes ângulos para entender como o objeto é feito. Depois de desenhar em 2D graças ao Illustrator, e fazer a primeira versão em papel graças à minha máquina de corte (isso me faz ganhar muito tempo), dobro e colo as diferentes peças e, se estiver satisfeita, envio o protótipo para meu cliente. 

Nina Ricci Parfums, Levi’s, Centre Pompidou, L’Occitane são alguns dos teus clientes, o que costumas observar quando um cliente solicita uma nova campanha? 

CS - Os meus clientes são muito diferentes, e isso é incrível no meu trabalho, sempre há um novo desafio! Tenho muita sorte de sempre ter novos clientes com novas ideias e problemas para resolver. Como eu disse, alguns sabem exatamente o que querem e outros confiam em mim para propor diferentes formas de mostrar seus produtos. 

Acreditas em inspiração? De onde ela vem? 

CS - É um pouco bobo, mas acho que a inspiração está em toda parte, e isso é incrível. Você pode ser inspirado por uma pintura, por uma música, por uma piada que você ouve, por uma cor, ... E, muitas vezes, quando você não pensa sobre isso, é que você tem suas melhores ideias. 

Tens algum trabalho em andamento? 

CS - Na verdade, estou grávida, então estou me concentrando nesse grande trabalho em andamento para o final do ano, mas tenho alguns pequenos projetos para apresentar até lá!

Confira, também, um pouco mais o trabalho desta artista nas plataformas:
www.charlotte-sagory.com
@charlotte_sagolri

Fotos: Simoné Eusébio / Charlotte Sagory

(*) Fábio André Rheinheimer, arquiteto, artista visual e curador independente, participou de diversas exposições coletivas, exposições individuais e salões de arte.  Atua profissionalmente nas áreas de arquitetura e artes visuais, em Porto Alegre, onde reside.


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