Turismo

“PERCA A CABEÇA” NA ESTONTEANTE E BELA EDIMBURGO

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Não são apenas nas relações entre humanos que existe o amor à primeira vista. Esse sentimento pode surgir ao conhecermos uma cidade. Capital da Escócia desde 1437, erguida entre penhascos rochosos e antigos vulcões, na margem sul do estuário do rio Forth, que desagua no Mar do Norte, com apenas 500 mil habitantes, Edimburgo (Edinburgh em inglês) fascina e conquista ao primeiro olhar.

Catedral de Santo Egídio e também a escultura que deixa as pessoas mais sábias ; Na Câmera Obscura
Vista da Cidade a partir do Castelo de Edimburgo

Sair da estação de trem, bem na região central, quase na divisa entre a cidade velha e a cidade nova e, ainda por cima, logo ver e ouvir um escocês tocando com seus trajes típicos a gaita de fole foi arrebatador. Esta é uma reportagem, mas também uma declaração de amor e paixão por Edimburgo. Mas, convenhamos, um sentimento tão desprovido de ciúmes e posse que fazemos questão de dividi-lo com você, caro leitor, apresentando a cidade, com sua arquitetura medieval no Old Town e de estilo gregoriano do New Town – ambas consideradas Patrimônio da Humanidade pela Unesco - e atrações, como castelo e palácio, parques, museus, monumentos, montanhas, ruas e becos, igrejas, lojas, experiências interativas, pubs e até um impressionante hotel.

Em Edimburgo você perderá a cabeça. Calma, não falamos aqui sobre as execuções feitas por longo tempo em praça pública, na região da Grassmarket, nem dos passeios fantasmagóricos que existem para justificar a fama de “a cidade mais assombrada da Europa”. A explicação está na foto deste jornalista, que apresenta a primeira das atrações que indicamos a partir de agora. A Câmera Obscura e o World of Illusions (€ 15,5) é um prédio de seis andares com vistas inusitadas da cidade através de seus telescópios, além de uma série de surpresas sensitivas, que surgem através de jogos de espelhos, cores e luzes e visita virtual pela cidade. Atração imperdível, com arte, criatividade e tecnologia, para as crianças de todas as idades. A Royal Mile, na Old Town, é a principal rua da cidade. Recebe esse nome por ir do Castelo de Edimburgo até o Holyrood Palace, a casa da realeza escocesa. Ao longo de 2km, há muitas atrações, como a já citada Câmera Obscura. Caminhe por essa rua e entre em suas lojas, como as que vendem cachemira, tartan – tradicional tecido de lã escocês - e os kilts, conhecidos como “as saias dos escoceses”; e em closes, igrejas, pubs, restaurantes, cafés e muito mais. Os closes são becos onde residiam pessoas. Aos poucos, com o crescimento da cidade, no século XVIII, construções cobriram essas ruas, deixando-as subterrâneas. Ainda na Royal Mile, conheça a Catedral de St. Giles (Santo Egídio) - dedicada ao santo padroeiro de Edimburgo. Tem quase mil anos e é considerada a Igreja Matriz presbiteriana. No lado de fora, uma escultura do filósofo e economista escocês Adam Smith que viveu na cidade. Há também a escultura do filósofo escocês David Hume. Dizem que quem passar a mão no dedão do pé da escultura receberá sabedoria ou fortuna.

Palm Court ; The Scotch Whisky Experience; Foto: Divulgação

Ao final da rua fica o Palácio de Holyroodhouse, há muitas gerações, o favorito da realeza no país. Por € 17,18, em um passeio de 1h30, dá para conhecer áreas da residência oficial da rainha, como os Salões Nobres, os aposentos históricos de Maria, rainha da Escócia e a Sala do Trono. Bem próximo, o moderno edifício do Parlamento Escocês, do catalão Enric Miralles. Mesmo de estilo contemporâneo, está integrado ao Centro antigo. Dá para fazer visitas guiadas, com entrada gratuita. O Calton Hill, colina ao final da Regent Road, na cidade nova, tem edificações como o Observatório da Cidade, o Monumento a Nelson (em homenagem ao vice-almirante Nelson após sua vitória e morte na Batalha de Trafalgar) e o Monumento Nacional, de 12 colunas, erguido em homenagem aos mortos nas Guerras Napoleônicas. Inspirado no Partenon, de Atenas, a obra foi iniciada em 1826, mas nunca terminou, por falta de verbas. Por muito tempo foi chamada de “A Vergonha de Edimburgo”. Hoje, rende à cidade o apelido de “Atenas Europeia”. A colina é perfeita para apreciar, sob diversos ângulos, a vista da cidade,

Situado no alto de uma montanha de um vulcão extinto, com 120 metros e mais de 1.400 anos de história, o Castelo de Edimburgo é a atração mais imponente e visitada. O complexo é enorme. É preciso dedicar muitas horas para o passeio. Sempre é bom reservar antes, para evitar filas (€ 17,50 pela internet e € 19,00 no local). Abriga o edifício mais antigo da cidade: a Capela de Santa Margarida. Foi o castelo dos reis da Escócia até 1603. Há atrações como as Joias da Coroa Escocesa, Museu Nacional de Guerra da Escócia, a Pedra do Destino e o canhão One O’ Clock (que é disparado praticamente todos os dias, às 13h). Como o castelo está encrustado em uma das colinas mais altas da cidade, a visão que se tem ao redor é incrível.

Próximo à Catedral, a escultura do filósofo e economista escocês Adam Smith que viveu em Edimburgo
Passeio na parte antiga da cidade - patrimônio da humanidade; Porta do quarto J. K. Rowling no The Balmoral;

Ao final da Royal Mile, pertinho da Palácio de Holyroodhouse, está o imenso e exuberante Holyrood Park. Vale passear por ele, ver seus lagos e caminhar até o topo do Arthur’s Seat, o ponto mais alto da cidade, um vulcão extinto de 251 metros, de onde – parece repetição – há cenários imperdíveis da região. Para alguns, ali o local da lendária Camelot e o topo seria justamente onde fica o trono do rei Arthur. Há museus e galerias espetaculares em Edimburgo, com entrada franca, como a Galeria Nacional da Escócia, que tem obras de Monet, Van Gogh, Rafael, Rembrandt, Botticelli, Goya e muito mais. Não deixe de ir ao Museu Nacional da Escócia com peças que vão da pré-história aos dias atuais – dos dinossauros às grandes inovações da tecnologia e ciência. Doado pela Universidade de Edimburgo, o primeiro mamífero empalhado do planeta, a Ovelha Dolly, é uma das atrações mais procuradas. O museu passeia pela história e cultura da Escócia. Mostra também momentos terríveis da história do País, como a guilhotina utilizada entre os séculos XVI e XVIII e os equipamentos e utensílios de tortura, direcionada principalmente para mulheres acusadas de bruxarias. A Princes Street está para a New Town assim como a Royal Mile para o Old Town. Por sinal, as duas são paralelas. É conhecida por seu comércio formado por lojas e grandes magazines abarrotados de moradores e turistas. Na região ficam alguns dos museus mais importantes da cidade, além do Scott Monument. Também paralela à Princes está a Rose Street, calçadão com pubs e restaurantes. No local, também acontecem os famosos mercados natalinos. Mais uma atração que disputa a fama de ter a melhor vista. Em estilo gótico vitoriano, erguido em homenagem ao escocês Sir Walter Scott, poeta, novelista e escritor de peças, o Scott Monument é o maior monumento dedicado a um autor no planeta. Com 287 degraus, 61 metros, dividido em quatro níveis e com algumas passagens bem apertadas, a Torre não é indicada para todos. Quem subir (€ 8) verá que vale a pena. Tem uma vista privilegiadíssima para o centro, o Princes Streeet Gardens, a colina, a montanha e o castelo.

Se a Princes Street é o paraíso das compras, basta travessar a rua para se chegar ao Princes Street Garden, paraíso do lazer, relaxamento e encanto. Durante o verão e primavera, muitas pessoas ficam sentadas nos bancos ou no belo gramado do parque, que no passado foi um grande e poluído lago que recebia os detritos da Old Town. Um dos destaques do parque é o Floral Clock, o relógio de flores mais antigo do mundo. Situado ao pé da rocha do Castelo de Edimburgo, o parque é também um dos pontos preferidos para fotos incríveis. A Scotch Whisky Experience começa com um inusitado passeio em um carrinho barril, mas não é coisa para “turista ver”. É uma instigante e saborosa aula que introduz ao mais conhecido produto escocês: apresenta as regiões e seus aromas e conclui com degustações, que variam de acordo com o pacote (a partir de € 13,50). Destaque, ainda, para a coleção de cerca de 3.400 garrafas, que um dia pertenceu ao brasileiro Claive Vidiz.

Castelo de Edimburgo, maior atração da cidade
Monumento Nacional no Calton Hill

Fundado em 1902, o The Balmoral Hotel (www.roccofortehotels.com) é também uma atração turística da cidade. Em 2019, foi eleito, em votação de mais de 600 mil leitores do prestigiado “Condé Nest Traveler US”, como o melhor hotel do Reino Unido. Possui 187 quartos, com preços de vão de €200 a € 5 mil. As suítes têm vistas exuberantes para a cidade. O hotel se orgulha de seu relógio na gótica e imponente torre de 58 metros que “erra” as horas há 118 anos. Está adiantado em três minutos, simbolizando que está ao lado estação Waverley, no número 1 da Princes Street e que se sair dali no horário ninguém perderá o trem. Acertou as horas apenas 118 dias desde a sua fundação: sempre em 31 de dezembro. É muito procurado o restaurante “Number One”, pilotado pelo estrelado chef Michelin Mark Donald. No Palm Court, um luxuoso e ao mesmo tempo aconchegante salão com cúpula de vidro e lustre veneziano, há um famoso chá da tarde, para muitos o melhor de Edimburgo, a € 45 por pessoa (€ 55 com champagne). Uma das atrações do hotel é o quarto onde a escritora JK Rowling se hospedou por seis meses e terminou de escrever em 11 de janeiro de 2007 “Harry Potter e as Relíquias da Morte”. A escritora deixou uma declaração assinada atrás do busto de Hermes, em mármore. A declaração foi colocada em um quadro com vidro. O quarto, com porta roxa com uma coruja dourada, foi nomeado “JK Rowling Suite” e é motivo de peregrinação dos fãs da série Harry Potter. Muitos disputam para se hospedar no local. Ao sair do hotel, entrar na estação de trem e deixar a cidade, a gente vê que realmente não perdeu a cabeça, mas deixou em Edimburgo um pedaço do coração.

Fotos: Maria Pereira Gontow

Airton Gontow é jornalista, cronista e diretor do site de relacionamento Coroa Metade.

Ele e sua esposa, a repórter fotográfica Maria Pereira Gontow, fazem matérias sobre Turismo para diversos jornais e revistas do País.

@airtongontow