Palco de grandes espetáculos em música, teatro, dança, palestras e exposições de arte, o Theatro São Pedro – TSP é um dos orgulhos dos porto-alegrenses, transformando a vida cultural da cidade desde que inaugurou em 1858.
Localizado junto à Praça Marechal Deodoro, foi erguido com objetivo de abrigar as diferentes manifestações culturais da época, mantendo seu propósito até os dias de hoje, mas com intervalos em razão de questões políticas do passado, sua revitalização e devido ao atual momento da pandemia. Ao percorrer suas galerias, camarotes, foyer, camarins, e admirar a imponência do grande lustre de cristal sobre a plateia, nos transportamos no tempo, imaginado os grandes nomes que por ali passaram e nos brindaram com sua arte. Então, trouxemos aqui um pouco da linha do tempo deste ícone da capital dos gaúchos.
MOMENTOS
- Em 1833, o Presidente da Província Manoel Antônio Galvão emitira uma carta de título de doação de um terreno para o início das obras do teatro, com o projeto arquitetônico de estilo neoclássico de Filipe de Normann.
- Com o advento da Revolução Farroupilha, iniciada em 1835 e que levou 10 anos de lutas, as obras foram suspensas, sendo retomadas em 1947. Até que, em 27 de junho de 1858, o prédio foi inaugurado pelo Barão de Uruguaiana, com a representação da peça “Recordações da Mocidade”. E, em 1862, o TSP tornou-se definitivamente patrimônio público.
- Durante a Revolução Federalista, de 1893 a 1895, viveu-se um imenso vazio na programação artística. O palco do TSP ficou praticamente deserto.
- Aos poucos, a vida cultural reiniciava e ganhava corpo. Além do teatro, o TSP exibiu a primeira película de cinema na cidade, em 1901, estendendo este tipo de atração até 1908.
- Novamente, um conflito, desta vez internacional, a I Guerra Mundial afugentou grandes companhias estrangeiras que costumam fazer turnês no Rio Grande do Sul.
- O TSP continuou sendo palco político em 1934 recebendo o Congresso do Partido Republicano Liberal (PRL), congregando elementos dos antigos PRR e PL que antes da Revolução de 1930 e da Frente Única Rio-Grandense, eram inimigos políticos. A realização deste evento foi o marco na redemocratização do Brasil após a Revolução Constitucional de 1932.
- Em 1950, é fundada a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA), a segunda mais antiga do país em atividade até hoje.
- Nos anos de 1950, o TSP passou por uma reforma. Recobriram-se os gradis de ferro dos camarotes com gesso, pinturas nas paredes e uma curiosidade: em julho de 1957, inaugurou-se a sede provisória do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) no foyer, permanecendo lá até 1973.
- Na segunda metade dos anos 1960, cultura da cidade e a temporada de música erudita teve uma apreciável programação, e a vinda de Eva Sopher para a direção da Pró Arte do Estado.
-Havia muitas apresentações, mas a manutenção do espaço era precária. Cupins, estruturas comprometidas. Em 1973, o espaço foi fechado. O jornalista Paulo Amorim assumiu o Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria da Educação do Estado, em 1975, e pediu para que Eva Sopher assumisse a coordenação das obras de recuperação da casa.
A RECONSTRUÇÃO
O prédio necessitava de uma reconstrução, que nem todos do governo eram favoráveis, pois achavam inconcebível investir recursos públicos em um casarão em ruínas. Sob orientação do arquiteto Carlos Antônio Mancuso, todo o miolo do teatro foi retirado. Por anos, restaram apenas as velhas paredes entre os andaimes. Preencheram-se esses vazios aos poucos, à medida que chegavam os recursos, resgatando-se a volumetria e a acústica original. Vigas de aço substituíram a de madeira e instalações hidráulicas e elétricas foram inteiramente refeitas. As escadas laterais, originalmente destinadas aos escravos que atendiam seus senhores acomodados nos camarotes, deram lugar a instalações sanitárias. Os gradis foram recuperados e as portas refeitas a partir de seis exemplares remanescentes. A partir de um fragmento de veludo francês, escolheu-se um veludo idêntico para as poltronas.
O LUSTRE MAIS FOTOGRAFADO DA CIDADE
O lustre foi inteiramente recriado pelo arquiteto, inspirado no original com 68 mangas de cristais. A luminária original possuía um dispositivo para evitar que a cera das velas caísse sobre o público. Tanto cuidado não evitou que o lustre sumisse por um bom tempo, sendo localizado a muito custo na Igreja Matriz de Rio Pardo (RS), sem grande parte dos pingentes de cristal. O lustre atual foi confeccionado na Capital gaúcha, com mais de 30 mil peças de cristal nacional e oriundas da Boêmia. Concluído, ficou com quase 4 metros de comprimento e pesando cerca de 600 quilos, ganhando um mecanismo para subir e descer, possibilitando a limpeza e troca das lâmpadas.
PINTURAS E PORÕES
Com motivos da flora e da fauna gauchesca, a pintura do forro foi elaborada por Léo Dexheimer, Plínio Bernhardt, Danúbio Gonçalves e Carlos Mancuso. Os porões do TSP escondem labirintos e paredes originais do teatro, que chegavam a medir 2,5 metros de largura e eram encarregadas de sustentar todo o prédio. Ainda podem-se encontrar trechos destas paredes no Memorial do TSP, que usavam uma argamassa bem peculiar: uma mistura de estrume, cal, leite e areia.
A FUNDAÇÃO TSP
Com a reconstrução, aumentou-se a área útil do teatro em cerca de 1.900 metros quadrados. Em 1982, o TSP transformou-se em fundação, possibilitando a arrecadação de empresas privadas para o desenvolvimento das obras e finalização do projeto. Com a criação da Fundação Theatro São Pedro, em 18 de março de 1982, Eva Sopher foi nomeada pelo Governador do Estado, como a Presidente da FTSP.
A REABERTURA
Em 28 de junho de 1984, Porto Alegre celebrou a reabertura do TSP, com a presença de artistas, jornalistas, políticos e personalidades ligadas à cultura brasileira. O discurso de Eva Sopher abriu a cerimônia, seguido da execução do Hino Nacional Brasileiro pela OSPA, regida pelo maestro Eleazar de Carvalho. Logo após, o maestro Radamés Gnatalli apresentou uma composição própria, Sinfonia Popular n°1. Fechando a noite, o grupo gaúcho Cem Modos, encenou o espetáculo O Julgamento do Cupim. A temporada do Theatro São Pedro teve sequência com a histórica apresentação de Bibi Ferreira em Piaf, com 41 sessões, todas com ingressos esgotados.
MULTIPALCO
O TSP faz parte de um complexo cultural que reúne o Multipalco Theatro São Pedro, projeto com mais de 18 mil m² de área construída, que permite ampliar o atendimento de demandas culturais e educacionais do Estado. São cinco andares destinados às artes de palco, equipados para oferecer a mais completa infraestrutura a artistas, técnicos e espectadores. As obras iniciaram em 2003 e comporta espaços como Praça Multipalco: pavimento que liga a Praça da Matriz, o Arquivo Público e a Assembleia Legislativa, além do próprio Theatro São Pedro, configurando um grande espaço de lazer e cultura; Concha Acústica: destinada a espetáculos ao ar livre, inaugurado em 2009, com capacidade para aproximadamente 700 espectadores; Restaurante Du’Attos; área administrativa; sede da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro; salas de reuniões; salas de músicas para apresentações camerísticas, ensaios, simpósios e conferências.
Atualmente a Fundação Theatro São Pedro tem a presidência de Antônio Carlos Hohlfeldt e direção artística de Dilmar Messias.
Fonte: Fundação Theatro São Pedro
Fotos: Diego Maia
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