Lounge dedicado aos degustadores de charutos é uma experiência para todos os sentidos
Um dos lugares mais elegantes de Porto Alegre, inaugurado em novembro de 2019, tornou-se o templo dos apreciadores de charutos na capital gaúcha, o Espaço Baltoro - Bar e Cigar Lounge. Ao adentrar a grande sala que recepciona os convidados, o visitante percebe a dimensão do quanto este tipo de prazer é capaz de reunir credenciais que se traduzem em refinamento: projeto arquitetônico marcante, serviços agregados que primam pela alta qualidade, produtos premium selecionados por uma curadoria com mais de 30 anos de experiência em charutos.
O Espaço Baltoro é um ambiente co-criado por designers especializados no setor de hospitalidade de luxo, com uma primeira unidade inaugurada no Pátio Batel, em Curitiba. Ambos os projetos arquitetônicos levam a assinatura de Juliana Bassani Lamachia, do Estúdio Obra Prima, com trabalhos no Brasil, Uruguai e Argentina.
Sua estrutura chama atenção pelo pé direito com 5,60 metros de altura, inspirado na atmosfera das bibliotecas clássicas. Luzes pontuais dão aconchego, assim como a predominância da madeira, além de contar com um umidor com temperatura e umidade controladas, folhas de tabaco penduradas no teto que espalham seu aroma. Para fumar, há dois lounges exclusivos. Outro detalhe arquitetônico é a escada helicoidal que remete à folha de charuto.
Não apenas degustadores de puros cubanos frequentam o Espaço Baltoro, pois o bar é um dos pretextos para visitá-lo por oferecer carta de drinks clássicos assinados por Paulo Ravelli, barman premiado pela revista Prazeres da Mesa e o jornal Folha de São Paulo, em 2019.
CURADORIA E EXPERIÊNCIA
Antonio Carlos de Oliveira, o Tony, há mais de 30 anos, dedica-se a estudar, pesquisar, degustar e viajar a destinos com tradição em desenvolvimento de bons tabacos. Responsável pela curadoria dos charutos do Espaço Baltoro, por meio da empresa de consultoria Humphrey, sua trajetória neste segmento se iniciou nos anos 1990 quando era proprietário de uma delicatessen, sendo o primeiro a comprar puros cubanos assim que o Brasil passou a liberar a importação desse tipo de produto. “Anos após essa abertura, se iniciou uma espécie de caça às bruxas aos fumantes, sendo o hábito proibido em lugares fechados, corroborando para um ostracismo por cerca de uma década, até que empreendedores começaram a criar cigars lounges, que são os espaços exclusivos para fumar”, ressalta.
Além de selecionar charutos, seu trabalho envolve treinamento de profissionais e realização de eventos relacionados ao tema, bem como divulgação. De acordo com Tony, o Espaço Baltoro leva o selo Habanos Lounge, que vem a ser uma certificação concedida apenas a empresas que comercializam legítimos charutos cubanos, com indicação de procedência, além de atender a outros requisitos de excelência que garantem a sua autenticidade. “Isso é importante, pois há muita falsificação neste segmento, principalmente de marcas consagradas como a Cohiba, por exemplo, que ficou conhecida por ser a preferida de Fidel Castro e somente em 1982 disponibilizada ao mercado”, explica.
E não apenas cubanos, que respondem por cerca de 60% dos produtos, são comercializados no Baltoro, marcas da Nicarágua, Honduras, República Dominicana e do Brasil também estão presentes na carta.
A IMPORTÂNCIA DO ARTESANAL
Embora existam marcas produzidas em escala industrial, este tipo de confecção não é bem vista pelos apreciadores mais exigentes e que entendem a importância de um produto manufaturado como um habano. O bom charuto ainda é artesanal, mesmo que seja produzido em grandes volumes. Sua cadeia produtiva envolve processos demorados e muitos profissionais: desde a fermentação das folhas de fumo, passando pela secagem, montagem, até chegar ao consumidor, o que pode levar até dois anos. Tudo isso acaba impactando no valor final.
FUMAÇAS
Puros: são denominados assim porque suas folhas e mão de obra são de um mesmo país. Isso ajuda a diferenciar marcas que confeccionam a partir de folhas de fumo provenientes de um país e enrolados em outro.
Habano: confeccionado em Cuba, mas em algumas regiões, pois são charutos com Denominación de Origen Protegida (DOP), pois mesmo em Cuba é possível encontrar falsificações.
Comprimento: quanto mais longo o charuto, mais fria a fumaça chega à boca.
Acendimento: recomenda-se fósforo, isqueiro tipo maçarico ou lascas de cedro acesas. Ao acendê-lo, gire para que o fogo atinja toda sua extremidade. Não é indicado usar isqueiro com fluído.
Corona: forma clássica de bitola, muito indicada para fumadores iniciantes.
Churchill: formato desenvolvido pela Romeo y Julieta (Cuba) em homenagem ao britânico Winston Churchill. Atualmente, outras fábricas de diversos países também fazem esta bitola - 178 mm de comprimento e 18,65 mm diâmetro.
Iniciantes: sugestão para quem quer iniciar é degustar marcas dominicanas, pois as cubanas são mais encorpadas, e mesmo as mais leves entre as cubanas ainda são mais fortes que as demais. Não tragar a fumaça, pois a ideia é prendê-la na boca para identificar notas e sensações. Fumar rápido faz com que o sabor fique amargo mais cedo.
DEGUSTADORES APAIXONADOS
O charuto é daqueles prazeres que bem podem ser apreciados sozinho. Degustá-lo está relacionado à contemplação e pausa, mas a interação que ele proporciona em pequenos grupos também carregam muito do seu charme. Fumar um charuto remete a boas conversas sobre viagens, gastronomia, harmonizações com bebidas mais fortes, como um Bourbon. O importante é que as escolhas que o acompanham sejam dignas dessa parceria, até porque o charuteiro leva um bom tempo para saboreá-lo.
Para fãs como Flávia Cristina Jaeger, advogada e chef de cozinha, a bebida pode variar. E isso vai depender do charuto e do momento. “Gosto com um café depois do almoço, e vai bem com espumante. Me agrada muito com um Negroni. Mas nunca, jamais fumar de estômago vazio ou em jejum”, ensina a chef, que iniciou aos 23 anos, e ressalta que foi amor à primeira baforada. Praticante de pesca feminina em grupos, Flávia costuma viajar para lugares em que a umidade favorece fumar charuto, como alguns locais da Amazônia brasileira e rios da Costa Rica. Quando era permitido fumar em lugares fechados, o problema era outro: encontrar bons produtos em Porto Alegre. Eram raros os espaços que comercializavam. Atualmente, Flávia é uma das frequentadoras do Espaço Baltoro. Para ela, até o ritual de acender é tão prazeroso quanto degustar: “Seja com lascas de cedro, isqueiros especiais, curto esse momento, bem como a mise-en-place necessária para saborear quando der vontade em casa. “Gosto desta socialização que o charuto proporciona e que vem da época dos indígenas quando se reuniam em volta da fogueira, fumavam e conversavam, no ritmo para boas reflexões. É algo atávico, acredito muito que a vontade de se reunir para fumar charuto venha dessa ancestralidade”.
“Gosto com um café depois do almoço, e vai bem com espumante. Me agrada muito com um Negroni. Mas nunca, jamais fumar de estômago vazio ou em jejum” Flávia Cristina Jaeger
Por tratar-se de um produto de alto valor agregado, o charuto está associado a um estilo de vida que dá uma ideia de glamour, mas há quem goste de descomplicar certos conceitos e lembre que esse perfil idolatrado pelo cinema não passa apenas de uma imagem construída sobre a sofisticação. Para o publicitário e ator Henrique Lago, fumante de charutos há mais de 15 anos, a primeira experiência aconteceu no Uruguai. “Experimentei um Cohiba e curti o gosto e o retrogosto. Sempre que um amigo ia para Rivera, encomendava. Com valor alto do dólar, procurei opções no Brasil. Encontrei charutos baratos, mas muito ruins, que não entregavam o prometido. Quando conheci a antiga loja de Tony (Puros Tabacos), passei a ser freguês, pois também havia uma pequena confraria. Foi ali que aprendi muito sobre charutos”, conta. Henrique, que tem por hábito fumar um por dia, mas isso também vai de acordo com a disponibilidade financeira do momento, diz que prefere os robustos por causa da bitola e do tempo de fumo: “Mas pode variar, pois articulo o tamanho com a minha necessidade. Quando fumo enquanto trabalho, prefiro uma bitola menor. Se estou num ambiente em que tenho bebida disponível, mais tempo e conforto, aí a bitola e o tamanho podem aumentar e muito. Estive em Cuba, em fevereiro, e encontrei um Montecristo A, aquele do Perfume de Mulher, em um resort com um lounge confortabilíssimo, um dos grandes momentos da minha vida de degustador”.