DO LIXO AO LUXO
Adepto da prática upcycling em suas criações, o artista William Amor revitaliza materiais usualmente descartados e os transforma em arte. Vencedor do Grand Prix de la Création da Cidade de Paris para talentos emergentes na categoria Artes e Ofícios, em 2019, William Amor gentilmente aceitou meu convite para responder a algumas perguntas sobre seu belo e instigante trabalho.
Como começou sua carreira de artista (craft artist)? Você tem alguma formação acadêmica nesta área?
Eu sou um artista autodidata. Sempre tive uma sensibilidade criativa. Sempre criei desde a minha adolescência de forma amadora: da escultura à pintura, ao design de luz, à realização da Land Art e, claro, às flores. As primeiras flores eram de papel, eu tinha 20 anos. Desde criança, sou apaixonado por botânica e pela natureza. Decidi profissionalizar minha arte em 2015. Não tive formação acadêmica, treinei pela observação e principalmente pela experimentação. Todos esses anos de experimentação me permitiram adquirir minhas técnicas singulares que exploro em minhas criações atuais.
Você tem trabalhado com materiais descartados. Por que você escolheu esses materiais?
Gosto de poesia, de criar sentido... Esses resíduos gerados pelo homem que resultam na poluição e destruição da vida sempre me chocaram ... Ao trabalhar com esses materiais pretendo romper com julgamentos de valor e mostrar que o que consideramos prejudicial e feio pode se tornar luxuoso, belo e provocar emoções. Além do mais, sou um sonhador, gosto de ter outra percepção das coisas que me rodeiam... Pensar que um resíduo isento de beleza pode se tornar um belo trabalho - uma linda flor, me entusiasma. Gosto de poesia, gosto de sonhar, me defino como alguém com grande sensibilidade.
Qual o melhor material para desenvolver suas criações, você tem alguma preferência?
Não, não tenho preferência, gosto de diversidade. Cada um dos materiais descartados que coleciono traz uma textura diferente, um acabamento diferente... Eu só faço peças únicas e dependendo das criações que vou fazer, vou buscar no meu estoque de resíduos coletados o que me interessa de acordo com a representação que desejo obter. Garrafas de plástico para uma aparência próxima ao vidro ou cristal, filmes e sacos plásticos para um acabamento translúcido próximo ao tecido ou papel, bitucas de cigarro para uma representação macia, redes de pesca por suas fibras... Não tenho limites criativos. Todos os materiais podem me inspirar. A única condição na minha abordagem artística é que seja considerado lixo.
Em 2019, você ganhou o Grande Prêmio da Cidade de Paris para talentos emergentes na categoria Artes e Ofícios. O que mudou desde então?
Ganhar este prêmio foi um momento incrível para mim, e é um grande sinal de reconhecimento do meu trabalho e minha visão artística por grandes criadores de excelência da França e da indústria de luxo e artesanato. O que mudou desde então é que me sinto legitimado para criar peças excepcionais, luxuosas e singulares a partir do lixo; e ainda me dá mais vontade de desenvolver novas propostas e obras carregadas de mensagens poéticas.
Como é o seu processo de trabalho?
Tenho um processo de trabalho como artista, recolho o material descartado no meu dia a dia, na natureza, ou nas ruas e o guardo. Quando me pedem uma encomenda, interpreto o pedido com a minha sensibilidade, a minha visão poética... começo por esboços da obra que tenho em mente. Então vou procurar o resíduo que me interessa em realizá-los. Em seguida, vem um longo processo de limpeza e preparação do material antes de ser moldado. Aí vem a operação que se aproxima da ourivesaria: os materiais serão cortados, tingidos, texturizados, dobrados, frisados, gofrados, esculpidos etc. Então vou organizar esses ornamentos e montá-los como se fossem joias. Depois, como artista, vou finalizar o trabalho como escultura ou organizá-los em uma instalação artística para contar uma história, expressar poesia e minha sensibilidade.
Guerlain e Kenzo são algumas grifes para as quais fizeste campanha O que geralmente observas quando um cliente solicita uma nova campanha?
Sim, trabalhamos com todas as grandes marcas de luxo, elas são receptíveis à minha abordagem artística, aos meus compromissos sociais e ambientais, à minha inspiração e valores estéticos do meu trabalho. Essas marcas têm uma história, e é fantástico poder interpretar artisticamente suas histórias e seu precioso DNA com minha criatividade, minha sensibilidade e minha poesia.
Você acredita em inspiração? De onde isso vem?
Tudo me inspira!!!! A vida me inspira! A natureza, o ser humano me inspira! Inspiro-me todos os dias ... Uma textura, uma cor, uma luz diferente, o sonho, a sociedade ... Acho que essa inspiração vem da minha grande sensibilidade. Sou alguém que gosta de cultivar e vibrar com emoções. Estando inspirado, imaginar, criar, sonhar e provocar esses mesmos sentimentos a quem aprecia o meu trabalho me mantém vivo! Temos apenas uma vida, então podemos muito bem vivê-la com sonhos e poesia.
#INPROGRESS - 04 FOTÓGRAFAS E UM TEMA
A possibilidade de conhecer artistas, seus temas de pesquisa e exercícios criativos é uma oportunidade única, a qual me instiga a prosseguir na prática de curadoria no campo das artes visuais. Pesquisando portfólios, constatei uma aproximação muito interessante entre as produções distintas de quatro fotógrafas: Andréa Barros, Anelise Barra Ferreira, Fernanda Garcia e Sílvia Dornelles, que têm em comum a temática natureza; para ser mais preciso, fragmentos desta, ou seja, folhas e flores são objetos de investigação destas artistas. Em breve, trarei um pouco destas pesquisas. Confira:
@fernanda_garcia_photography
@sildornelles
@anelise_barra_ferreira
@andreabarros_photomobile
Fábio André Rheinheimer, arquiteto, artista visual e curador independente, participou de diversas exposições coletivas, exposições individuais e salões de arte. Atua profissionalmente nas áreas de arquitetura e artes visuais, em Porto Alegre, onde reside.
(51) 98182 5595
/fabioandre.rheinheimer
@fabio_andre_rheinheimer
art.far@hotmail.com