Por Gisela Santos
A CASA ORIGINAL
Um tema...Infinitas interpretações
A interpretação do morar bem é algo pessoal e intransferível e vai mudando ao longo dos anos.
Nestes tempos de isolamento, as mudanças foram rápidas em todo mundo, com reflexos imediatos no mercado imobiliário e de interiores.
A casa ganhou um novo status. Nunca se passou tanto tempo nos limites do cercadinho. E por isso se investe mais no morar.
Neste contexto, a reabertura de Casa Cor é vista com euforia pelo público. Gastos com viagens, por exemplo, revertem-se para o lar. E o público precisa de referências, de informação. O que comprar? Casa Cor é vitrine de produtos e serviços do setor. E o expositor do evento é um formador de opinião. O visitante só não deve esquecer que o evento é uma espécie de passarela do DECOR. Nem tudo o que “desfila” ali serve para a vida real.
A “revisão” de padrões de comportamento, trazida pelo período de isolamento, fez surgir novos hábitos. O contato com a natureza tornou-se essencial. A biofilia é uma forte tendência. Uma casa que proporciona experiências sensoriais. Aí mora o novo conceito do luxo. Plantas e materiais naturais com ênfase para madeira e pedras se fazem presentes neste cenário. O toque das texturas, um bom algodão, por exemplo, o cheiro das plantas e flores, sentir a brisa passando, curtir a luz natural atravessando as aberturas … se vê tudo isto em Casa Cor
O resgate da brasilidade e de memórias afetivas é outro viés do evento. Artesanato nacional, palha, cestaria, crochê, cerâmica e tons terrosos surgem com força. Num passeio pela mostra, alguns ambientes me fizeram lembrar a casa daquele tiozão universitário dos anos 80 que era meio hippie/socialista (e quem não teve tio assim?) Outros resgatam o clima da casa da vovó. Gosto não se discute (já dizia o fã de sushi de frango com catupiry), mas senti, aqui e ali, um clima meio “força barra” no retrô.
Muita calma nesta hora. Risco eminente de deixar a casa com cara de feira de artesanato nordestino. Gosta de tons terrosos? Sim, estão em alta. Pinte as paredes, é barato. Compre um filtro de barro, é barato, ecológico e dizem que também é saudável. Enfim, não quero ser tendenciosa, mas apostar muitas fichas na tendência do momento é arriscado! Digo isso com respaldo de mais de 20 anos acompanhando de perto e reportando as novidades do setor em projetos e eventos. Algumas tendências são tão voláteis que não duram uma temporada. O que vem na sequência? Quebradeira de piso e descartes de toda natureza.
Equilíbrio, pluralidade e um certo senso conservador dão grandes chances de estender o prazo de validade de um projeto de interiores. Olha eu aqui recomendando cautela de novo…é a tal maturidade adquirida ao longo dos anos (além de jornalista sou consumidora de arquitetura e design, viciada em obra).
Nem oito, nem oitenta. É preciso reinventar-se. O ineditismo faz o olho brilhar. Por outro lado, não é preciso reinventar a roda. Falar em misturar rústicos e contemporâneos, novos e antigos parece um texto meio desgastado? (Um diretor da Band TV sempre brincava com este meu texto recorrente). Certo é que quem mistura estilos costuma encontrar o caminho do atemporal.
Então vamos voltar a Casa Cor com alguns exemplos que sustentam minha teoria:
Tem muita, mas muita coisa boa para ver…Não consigo falar de tudo que vi de bacana na mostra, mas vamos lá…
RESPIRO, DE MARIANA MAISONAVE
Outro ambiente pautado na cartilha preconizada pelos mestres de Bauhaus “Menos é Mais”. 50 tons de bege…transmitem serenidade.
A proposta é fazer refletir sobre o respirar, conscientizar sobre o uso do tempo e convívio. A arquiteta homenageia o pai que foi internado na pandemia em UTI e venceu a doença. Palha, madeira, algodão…Mari explora muitas texturas. Elas emprestam calor ao conjunto. Prova de que minimalismo e aconchego podem ser compatíveis.
CASA YUGEN, DE GABRIEL BORDIN
O espaço inspira-se em um princípio estético japonês. Yugen tem a ver com mistério, profundidade…,mas as referências nipônicas são tratadas de maneira muito sutil. É que o temático muito literal tende a cafonice. #ficadica
Gabriel passa longe disso…a aposta é na elegância contida dos novos tempos. Sofá em L tem como pano de fundo estante (Florense) desenhada pelo arquiteto com uma “pegada” arquitetônica. Poucas e boas peças. Arte: destaque para tela de Rubens Oestren junto ao espelho d’água.
COSMOPOLITAN LOFT, POR MARIANA PESCA ARQUITETURA
Tons neutros também marcam o loft de Mariana Pesca. Idealizado para uma mulher empoderada, o espaço de 78m2 dá ênfase ao conforto e à funcionalidade sem perder de vista a estética. Peças de linhas orgânicas (algumas quebram qualquer resquício de monotonia). Piso Portobello Collab com a Osklen. Telas de diferentes estilos, artwall, fotografias assinadas e esculturas dão aquela “bossa cult”, que muita gente chama também de borogodó.
ÍRIS LOFT, POR PROGETTA STUDIO
Sofá vermelho Natuzzi, tapete verde, cores quentes na tela… preto na cozinha!
E no meio de tantas cores neutras, este ambiente, inspirado nos lofts americanos dos anos 50, surge como aquela manobra radical. O zen (flertando com hippie) dominante no evento abre espaço aqui para o estilo urbano, beirando um High Tech na iluminação (pendentes desenhadas pelo escritório), mas com contrapartidas de materiais naturais como o forro de madeira (tendência mostrada pelo evento madeira no lugar do gesso).
LOFT NATURELLE MICHAEL ZANGHELINI
Verde nos armários e no teto (vazado) da cozinha e uma grande ilha estendendo com a mesa já chamam a atenção no Loft Naturelle. As escolhas da sala, sofá Natuzzi e poltrona Studio Ambiente também são muito acertadas…, mas o melhor do espaço está no quarto “encapsulado” com madeira. Brises setorizam ambiente, mantendo a permeabilidade. O clima é de um SPA, com apelo eco, sustentável, sim (é pinus), mas bem chic. Eis o novo conceito do luxo.
Ah! Sim, tinha conversa para mais um tempão…, mas te conto mais no site da revista...
Gisela dos Santos, jornalista especializada na área de arquitetura e design. Apresentadora do canal Casa e Cia no Youtube. Curiosa por natureza, adora escrever sobre gastronomia, lugares e viagens.
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