A pandemia do Coronavírus fez uma reviravolta no mundo dos negócios e nas carreiras profissionais, mas também veio dar aquela chacoalhada para colocar algumas ideias em ação, como as iniciativas que trouxemos nesta edição.
RECEPÇÃO COM BERGAMOTAS
Comandado pelo casal Andréa Venzon, 43 anos, e Rodrigo Guimarães, 44 anos, o charmoso Ofertório Bar e Plantas, localizado no Quarto Distrito de Porto Alegre, inaugurou em maio de 2021. A vontade de investir partiu da comunhão de fatos. Rodrigo e Andréa moram em casas separadas apenas por um sobrado quase centenário entre eles. Há tempos, namoravam esta estrutura, imaginando que poderiam realizar algo um dia, mas as atividades de cada um adiaram os planos, até que perderam seus empregos em 2020. Após avaliar bem as possibilidades, decidiram fazer uma oferta pelo casarão nº 350 da rua Ernesto da Fontoura e abriram o bar, pensando também em agregar uma floricultura ao local. “Unimos a minha experiência de gestão, o bom gosto de Andréa para decorar, e o talento gastronômico da amiga Michele Ramona”, explica Rodrigo. Por mais de 20 anos, Rodrigo trabalhou numa conhecida marca nacional de mobiliário e artigos para casa. Andréa era da área de eventos, tendo atuado por muitos anos com projetos para atrair o público em bares de Porto Alegre, além da experiência no Havaí como bartender. Ambos amam decoração, colecionam itens dos mais diversos.
O ambiente interno traz grafitti e serigrafias ornando as paredes, e tem uma Kombi amarela instagramável estacionada em frente. O casal adora esta região de Porto Alegre que tem concentrado micro cervejarias, tanto que eles fazem questão de ter em sua carta de bebidas algumas marcas do Quarto Distrito. Ao entrar, o cliente é recepcionado com bergamotas, uma cortesia da casa.
Tudo é pensado para proporcionar uma ótima experiência, e o bar tem tido tanta procura que estão com planos de ampliar, usando suas casas que estão em cada lado para criar novos ambientes ao público.
Sobre o nome Ofertório, Rodrigo conta que estava na lista entre outras sugestões. “Pesquisamos na Internet para buscar mais inspirações e apareceu o vídeo do show de Caetano Veloso com os filhos. Quando escutamos a música que dá nome à turnê, nos arrepiamos, pois a letra da música Ofertório fala sobre ‘tudo que pedi a Deus, agradeço’. Parecia a minha história com Andréa. Então, o Ofertório para nós é um espaço de agradecimento por tudo que sonhamos e conseguimos realizar”.
@ofertoriopoa
NUNCA É TARDE
Quando alguém pensa em jogar a toalha por achar que não tem mais idade para iniciar um negócio, o paulista Fausto Souto Maior, 65 anos, desenvolvedor de calçados, chega ao mercado para realizar o sonho de ter a própria marca.
A experiência em mais de 45 anos com calçados femininos o fez ser requisitado por grandes fábricas no Brasil, seja em Franca, Belo Horizonte ou cidades do interior gaúcho, conhecido por ser um forte polo de moda calçadista: “Sempre fui muito dedicado. Gosto de pesquisar. Viajava todos os anos a países que são referência em design e tecnologia. Ganhei muito dinheiro trabalhando para o setor”.
Fausto prefere ser chamado de “sapateiro metido a besta”, ao invés de estilista, pois em sua experiência sempre se envolveu com todo o processo: criação, escolha dos fornecedores, modelagem, comercial. Atividades, estas, aos quais se dedica até hoje, além de trazer algumas inovações ao país, como as botas em stretch, um sucesso inclusive em estados brasileiros que não fazem frio, além de propostas criativas para exibir coleções em grandes feiras numa época em que os estandes eram todos iguais e sem apelo visual marcante que atraísse público e compradores.
No entanto, com as tantas crises econômicas que o Brasil tem somado ao histórico, o setor calçadista sentiu o baque, a ponto de fábricas serem fechadas ao longo das recentes décadas. Diante de tantas notícias inquietantes, Fausto ainda olhava o copo meio cheio, até que se viu frente a um desafio: como pagar as contas? Isso foi pouco antes da pandemia, e ele precisava agir rápido. Surgiu, então, a alternativa de vender pela Internet que, por circunstâncias técnicas, demorou para ser lançado. Mas em fevereiro de 2021, finalmente o Fashion Depot se apresentou ao mundo. “Eu não tinha outra saída a não ser assumir esse risco. Era agora ou agora”, destaca. Os calçados são confeccionados por empresas terceirizadas, a ideia das criações é de Fausto e equipe. “Também desenvolvemos para outras marcas parceiras em collab. Nosso objetivo é ser o maior e-commerce do segmento de calçados femininos”.
@fashiondepot.oficial
ARTE É PARA SENTIR
Jornalista, colaboradora freelancer de publicações, produtora de conteúdo e ghost writer, a gaúcha Ana Guerra, 45 anos, agregou às suas atividades a representação de artistas visuais. A vontade de trabalhar com arte vem antes da pandemia, mas as circunstâncias e as tantas incertezas que o novo modus operandi do mundo submeteu a humanidade adiaram seu sonho. No entanto, ao mesmo tempo, a fizerem refletir: por que não?
“Desde que fiz minha primeira aquisição em 2013, passei a pesquisar mais, visitar ateliês, conhecer artistas”, conta. Da admiração, viu que poderia transformar em um negócio prazeroso. E tudo veio numa época que buscava um novo estímulo profissional, sem deixar totalmente o jornalismo.
Em fevereiro de 2021, passou a atuar na venda de telas, gravuras, esculturas com horários pré-agendados, que podem ser em um escritório ou em parceria com Marilene Bittencourt, proprietária do espaço Habitart, em Porto Alegre. Os encontros são divulgados via redes sociais, onde o visitante é recebido com espumante. Com delicadeza, carisma e luvas, vai mostrando as peças, comentando sobre as inspirações do autor de cada obra.
A arte como investimento também é levada em consideração, pois uma obra costuma valorizar com o tempo. No entanto, Ana prefere defender outro ponto de vista e que está muito relacionado ao seu amor pelo ofício: “Muito mais do que comprar por ter um potencial valor de mercado maior no futuro, arte precisa fazer sentido para quem consome. Estamos mais tempo em nossos lares, um quadro ou escultura propiciam emoções, assim como a música. Queremos uma casa que proporcione bem-estar, e a arte ajuda a cumprir esse papel. Arte não tem que combinar com o sofá, ela tem que combinar contigo”.
@anaguerra.escritoriodearte
MÚSICA PRESENTE
A Internet tem propiciado novas formas de levar shows de música ao público. Graças às redes sociais digitais, a cantora e compositora gaúcha Gisela Pithan, 56 anos, que adotou o Rio de Janeiro há mais de 15 anos, tem conseguido driblar a redução de seus shows presenciais, - que ocupavam cinco dias da semana. Com uma agenda de compromissos em bares e eventos corporativos, viu seu trabalho ser afetado já em março de 2020.
Na proximidade do período do Dia das Mães teve a ideia de criar o “Música Presente”, que vem a ser um vídeo gravado com uma música por encomenda, precedido de uma mensagem enviada pelo contratante que Gisa lê para o presenteado. Ela toca e canta a canção escolhida pelo contratante, seja do repertório nacional ou internacional, e traz um pouco da sua veia atriz que estava adormecida desde que deixou a escola de teatro na juventude. Além disso, caso o cliente desejar, ela insere fotos enviadas previamente e que depois são usadas na edição do conteúdo audiovisual. “Soube de ex-namorados se reconciliando após um dos presentes musicais, entre outras notícias que me deixam muito feliz. Tem sido gratificantes esses eventos.”
Outra forma de se rentabilizar são as lives encomendadas para aniversários e empresas que desejam comemorar resultados de vendas. Nesses casos, os shows duram cerca de uma hora. Gisa explica que o “Música Presente” é enviada por aplicativo WhatsApp e não passa de 5 minutos, pois o App não suporta materiais longos. Aos poucos, está retomando os shows presenciais em um café em Copacabana, pois ama interagir com o público, e pretende continuar oferecendo o “Música Presente”.
@gisapithan