Falar do mercado do luxo, sem às vezes parecer repetitivo, é quase impossível, pois estamos falando de um setor que preza por valores centenários. As estratégias e pilares que sustentam o mercado do luxo não mudam, nem mesmo em face de guerras, crises financeiras e pandemias. O que muda, na verdade, é o comportamento dos consumidores do setor do luxo que, em face das situações mercadológicas, procuram se adaptar e descobrir novas formas de consumo.
Além disso, o consumidor do luxo é um consumidor em constante evolução, tornando-se sempre mais bem informado e mais exigente. Neste caso, obrigando, então, as marcas a continuar na crescente busca pela inovação e pela excelência. A disrupção costuma ser uma estratégia bastante utilizada, mantendo as marcas sempre à frente de seu tempo, mesmo com centenas de anos de existência.
Outro fator importante a considerar é a subjetividade que existe no mercado do luxo, sendo que, o que possa ser considerado luxo para mim, não necessariamente seja luxo para outra pessoa e a determinados grupos sociais. Alguns estabelecem seus próprios códigos de luxo que envolvem lugares, grifes, preferências gastronômicas etc.
As marcas, por sua vez, prestam clara atenção a estes movimentos e procuram se antecipar com propostas e ofertas que tragam soluções inovadoras e disruptoras. Sempre levando em consideração os gatilhos que provocam o consumo de luxo, como o desejo, o sonho, uma identidade, o pertencimento ou o merecimento.
Naturalmente, o panorama econômico global tem grande influência no setor, afinal de contas, a disponibilidade de renda discricionária é o que permite o consumo de produtos de alto valor.
E por incrível que pareça, o ano pós pandemia tem sido o melhor de todos os tempos do luxo, em termos de crescimento e expansão.
O isolamento e a impossibilidade de viagens estimularam o consumo de luxo local, além do crescimento exponencial das vendas online. As empresas do luxo foram extremamente ágeis na adaptação das suas formas de comunicação com os clientes através de lives e contatos personalizados. Além disso, inúmeras empresas do luxo entraram no comércio eletrônico com soluções inovadoras, em tempo record.
O grande desafio das empresas do luxo, no entanto, permanece o mesmo, que é aumentar a sua presença conquistando novos públicos, mas mantendo a aura de exclusividade e raridade
tão decisivas para manutenção da clientela principal do setor.
Para isso, existem vários recursos sendo usados, como colaborações, edições limitadas, peças numeradas com preços diferenciados, eventos fechados etc.
Ainda sobre a evolução do luxo, podemos dizer que os setores automobilístico e de construções foram os que mais se beneficiaram com a renda, que antes seria usada para viagens e consumo de luxo no exterior.
Há uma enorme demanda por supercarros de luxo com prazos de entrega já superando 12 meses, assim como empreendimentos de altíssimo padrão com assinaturas de luxo como Pininfarina, Porsche, entre outros.
Outro setor de grande sucesso durante a pandemia, e que promete continuar por longo tempo, são os tratamentos de saúde, ditos de luxo, como estéticos, suplementação, clínicas de autoconhecimento, e uma série de “novos luxos” que estão conquistando as novas gerações de consumidores, principalmente Millenials e os chamados Gen Z.
RETOMADA DO CONSUMO DE LUXO
Alguns números compilados por especialistas, como a Bain & Company, confirmam a retomada do consumo do luxo em 2021 e com resultados melhores dos que previstos anteriormente. Aliás, a headline da Bain diz que o luxo retorna sua trajetória histórica de crescimento.
A Fundação Altagama, da Itália, colaborou com o estudo, pois é a maior autoridade na indústria do luxo atualmente. Segundo as estimativas, as vendas devem alcançar Eur 283 bilhões (US$ 324 bilhões) até o final do ano, representando um crescimento de 29% em relação a 2020. Comparando, no entanto, com os resultados de 2019, o crescimento foi de 1%. De qualquer forma, para quem esperava uma recuperação somente em 2022, o resultado é surpreendente.
E as previsões até 2025 são também promissoras, com crescimentos na ordem de 5% a 9% ao ano, devendo atingir de Eur 360 a Eur 380 bilhões.
Para alcançar estes resultados, as empresas do luxo tiveram que se alinhar social e culturalmente aos mercados alvo, além de lançar campanhas de engajamento e conscientização ambiental. Temas, estes, que atraem os consumidores responsáveis pelo faturamento atual e, certamente, que garantirão o crescimento nos próximos anos, como as gerações Y (Millenials) e a geração Z, que deverá, até 2025, representando mais de 70% dos consumidores do setor.
Paulo Chiele é um dos principais consultores e especialistas do segmento de Luxo no Brasil e desde 2014 dirige a PRC - Consultoria em Luxo. | contato@prconsultoriaemluxo.com.br