A NOVA PAIXÃO NACIONAL CONQUISTA CADA VEZ MAIS ADEPTOS NO BRASIL
Por Paula Costa, Criz Azevedo e Marcelo Tovo
O que começou como um esporte de praia na Itália viralizou no Brasil e invadiu bairros, condomínios, casas e agora até escolas. O beach tennis virou uma febre nacional e vem atraindo cada vez mais adeptos amadores e posicionando atletas profissionais no ranking mundial.
Das areias das praias cariocas para quadras cobertas de todo o país. O beach tennis apresenta uma ascensão meteórica no Brasil, revelando campeões mundiais e milhares de atletas amadores, que descobriram no esporte uma nova paixão. De fácil acesso e de prática, para pessoas de todas as idades, o beach tennis vem atraindo adeptos e gerando novos negócios.
Em Florianópolis, o esporte também começou nas areias das praias mais famosas da ilha e hoje está com força total nas arenas de quadras de areia. O empresário, professor e atleta Pablo Borges vem acompanhando esse crescimento. Ele e os sócios montaram a primeira arena de quadras de areia em Florianópolis, há 5 anos, no bairro Córrego Grande. “Quando resolvi abrir a primeira arena de areia, e chamei algumas pessoas para investir nesse projeto, eles não acreditaram na proposta. Me chamaram de louco em pensar nisso, numa cidade onde tem tantas praias. Hoje, todo bairro tem. Condomínios, casas, praças e praias. Porque o beach tennis virou uma febre. Primeiro por ser um esporte muito fácil e todos conseguem jogar, segundo por ser divertido e seguro. As pessoas quando jogam, se apaixonam”, comenta Pablo.
Democrático, fácil e apaixonante, o beach tennis vem ganhando espaço e dando oportunidade para que muitas pessoas pratiquem uma atividade física se divertindo e melhorando a autoestima. É o caso do advogado Airton Brasil de 70 anos, que pratica o esporte há mais de 1 ano com aulas semanais, encontro com amigos e mantendo o preparo físico com a ajuda do pilates. “Normalmente bem mais jovens, mas que se comprazem, e muito, em vencer o desafiante veterano”, brinca Airton. E acrescenta que o grande desafio do BT está na competição, pois do outro lado há uma dupla a ser vencida. “Dessa forma, passamos a exigir a cada dia respostas mais precisas de nosso corpo para atender aos desafios dos embates. Aí o grande benefício! Sem percebermos, vamos aumentando nosso condicionamento e até esquecemos, por vezes, nossos limites etários. É isso; aos setenta anos me pego, às vezes, preocupado calculando por quanto tempo ainda terei condições de continuar jogando BT e usufruindo do saudável convívio entre jovens e não tão jovens, todos em busca de aprimorar a técnica e obtendo, sem perceber a maior de todas as vantagens; a saúde física e por consequência a mental”, conta Airton.
O beach tennis é a uma mistura de tênis e vôlei de praia e para ser praticado só precisa da raquete, de bolinhas e estar numa quadra de areia. Pode ser jogado em dupla ou de forma individual, onde homens, mulheres e crianças jogam juntos. É um esporte para toda a família. Em competições, está dividido em categoria amadora e profissional com torneios regionais, estaduais, nacionais e mundiais. No Brasil, existem grandes profissionais com títulos nacionais e internacionais.
O atleta profissional Vini Font treina e dá aulas em Florianópolis. Cidade que escolheu para viver junto com sua família, a esposa e atleta Julia Font e o filho de 3 anos e 10 meses, Vicente. Tetracampeão mundial por equipes, campeão mundial de duplas mistas, campeão panamericano, medalha de prata e bronze nos jogos Olímpicos de verão em Doha (Catar) e muitos outros títulos, Vini foi o primeiro não italiano e é o único brasileiro número 1 do mundo e hoje está em 9 no ranking mundial.
Professor de beach tennis, Vini também vem acompanhando esse crescimento do esporte em Floripa e no mundo. Para ele, esse movimento veio com a pandemia, onde as pessoas precisavam de atividades ao ar livre, contatos sociais e fazer atividade física visando a saúde. “O beach tennis é um esporte considerado seguro. Porque, apesar de ser jogado com 2 duplas, ele tem um distanciamento pelo tamanho das quadras e do espaço ao ar livre. Com isso, as pessoas que começaram por uma necessidade, acabaram se apaixonando pelo esporte por ser fácil e divertido.”, explica.
Durante a pandemia, praticar exercício físico se tornou um grande desafio para várias pessoas. Com a busca por atividades seguras, o beach tennis foi um esporte que ganhou força por não ter o contato direto com outros jogadores e ser praticado ao ar livre.
A arquiteta Ana Paula Mendes procurou o esporte no meio da pandemia e se apaixonou. Hoje joga três vezes na semana com grupos diferentes de amigos. Recentemente participou de um torneio onde foi campeã de dupla feminina na categoria D amador. “O que me levou a praticar o beach tennis foi estar com o pé na areia, conhecer pessoas novas todos os dias e ter este momento para relaxar e ser feliz”, explica.
Outro movimento que vem acontecendo em Florianópolis são as quadras de areia em condomínios e casas particulares. Percebendo isso, o empresário e professor Pablo Borges, junto de seus sócios, montaram um novo projeto para levar o esporte para dentro das escolas buscando incentivar os esportes de areia entre crianças e jovens de todas as idades. “O primeiro foi o colégio catarinense, onde fizemos as quadras e levamos os professores de vôlei, futevôlei e beach tennis. Com isso, outras escolas já estão nos procurando para conhecer o projeto. Tem muito para crescer ainda.”, acrescenta.
O beach tennis é realmente a nova paixão nacional. “Sou dos que acreditam que assim como é preciso paz para sorrir e chuva para florir, é preciso praticar beach tennis para ser feliz”, acredita Airton Brasil de Floripa.
PELAS ARENAS MILANESAS
A mudança de Porto Alegre para Milão para estudar no Istituto Marangoni e realizar o Master in Product & Furniture Design alterou a rotina da publicitária e designer Mariana Prestes, 35 anos. Praticante de esportes desde muito jovem, conheceu o BT na capital gaúcha, em 2017. Gostou tanto que passou a jogar regularmente e participado de campeonatos. Com a ida para Itália no segundo semestre de 2020, a pandemia exigiu algumas adaptações, pois as academias e quadras não estavam abrindo até meados de abril de 2021. Foi quando Mariana, após finalizar o Master, buscou um local para retomar o BT. Desde agosto deste ano, tem jogado, de uma a duas vezes por semana, com um grupo de mulheres em Milão, e já participou de um torneio misto. “Amo a adrenalina do beach tennis e o fato de ser uma atividade de equipe. Pois quando se joga em dupla, há o incentivo da parceria que está na quadra contigo. Além disso, melhorou minha resistência respiratória, pois você precisa ser muito veloz na areia. Sinto-me leve depois de praticar. E o esporte me ajuda até em decisões profissionais”, destaca Mariana.
ANTES DE JOGAR, REFORÇO NA MUSCULATURA
Uma modalidade que pode ser praticada por diferentes gerações. No entanto, será que o corpo está preparado? Pioneira em Porto Alegre ao dar o suporte essencial àqueles que desejam ter um bom desempenho em quadra e evitar riscos por meio de manobras mal realizadas, Carolina Buchmann, 35 anos, é educadora física, com Mestrado em Gestão Esportiva, professora certificada pela Confederação Brasileira de Beach Tennis (CBBT) e proprietária da BT 30 Performance, oferecendo serviços de preparação física e aulas. “Venho observando pessoas investindo tempo e dinheiro na técnica e deixando de lado treinos importantes para o corpo, essenciais para um reforço muscular e que vão fazer toda a diferença nas quadras”, justifica Carolina, que também realiza mentorias e presta consultoria a empresas, como incorporadoras e condomínios que pretendem construir ou adaptar quadras para o esporte. Entre os alunos de Carol está o casal Esdras Rubim, 75 anos, e Rose Isoppo, 64 anos, que viram o quanto as aulas funcionais têm contribuído para fortalecer articulações e trazer boas respostas nas jogadas. “As aulas funcionais têm sido importantes. Comecei a praticar em 2018 e não parei mais”.
@bt30performance
www.cbbtennis.com
BRASIL NO MAPA DOS GRANDES EVENTOS
Técnico da Seleção Brasileira de Beach Tennis, desde 2018, e o número 1 do mundo por seis anos na modalidade, o italiano Alex Mingozzi, 40 anos, se familiarizou com as raquetes em 1994, tendo antes passado pelo futebol. Aos 20 anos de idade já era campeão europeu de BT.
Ele é também o nome à frente de uma das maiores escolas de BT e com metodologia própria, a Astra Beach Tennis Special Academy. Casado com uma brasileira e morador de Porto Alegre desde 2015, Alex é o responsável por incluir a capital gaúcha na etapa Sul Special Cup, realizada no final de novembro, que vale pontos para o mundial, reunindo cerca de 120 atletas profissionais.
Também se destaca a ITF Beach Tennis World Cup, a Copa do Mundo por equipes, de 4 a 10 de outubro de 2021, na Praia de Copacabana (Rio de Janeiro), com transmissão pela SporTV e NSports, prova de que o esporte ainda tem muito a brilhar e se tornar uma modalidade olímpica. Nesta edição, que pela primeira vez o Brasil foi um dos anfitriões, a equipe brasileira conquistou o tetracampeonato, derrubando a Itália.
@alexandbeach
@astrabeach
ENERGIA EMPOLGANTE DAS TORCIDAS
Com tantos adeptos praticando o BT, surgiram oportunidades de encontros como forma de integrar pessoas e promover os benefícios do esporte. Entre as novidades está o primeiro torneio inter condomínios beach tennis no litoral do Rio Grande do Sul, iniciativa organizada pela administradora de empresas, Patricia Wisneviski. “O formato inédito reúne mais de 40 duplas a cada fim de semana no verão, nas categorias masculino, feminino e fun. São oito etapas internas dentro dos condomínios para decidir quais duplas irão para a final no dia 5 de março, na Arena Bravo Seadi. O torneio segue as regras da Federação Gaúcha de Tênis e iniciou sua divulgação via aplicativo ‘Eu sou Xangri-lá’”, explica Patricia. Participam os condomínios Villas, Malibu, Lagos, Riviera, Pacific, Enseada, Porto Coronado.
E a empolgação das torcidas nos eventos BT é tanta que tem até DJ especializado, como Luiz Carlos Gaspary, no comando das pick-ups. Empresário aposentado, praticante de beach tennis, sempre teve a música como hobby. Em uma viagem ao Caribe, adorou a energia de um torneio e pensou em desenvolver sets com músicas para as partidas. Dali foi um salto, e os convites para sonorizar eventos em Aruba, Porto Seguro, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outros lugares só cresceram. “Vou sentindo como a plateia responde às músicas e ao jogo, pois o set é um mix de estilos. Tão importante quanto os jogos é a festa quando termina as partidas”, assegura Gaspary, 60 anos, que também conta com a companhia da esposa Alice Campos, 60 anos, em suas viagens. O casal é um dos primeiros a praticar o BT em terras gaúchas, após um primeiro contato em 2010 no Rio de Janeiro. “Jogávamos tênis, mas o beach tennis nos arrebatou”, conta Alice. Nestes mais de dez anos, tem assistido a mudanças inclusive de comportamento da torcida. “Adoro a descontração, mas ressalto que o respeito é fundamental, e seria muito bom que o público fosse sempre simpático com os atletas, pois todos precisamos de um ambiente saudável e educado para que a energia feliz desse esporte seja uma marca eterna”.
MAIS COR PARA AS QUADRAS
Bravo, marca especializada em moda e acessórios exclusivos para a prática do beach tennis, vem ganhando o mercado. A ideia surgiu em meados de maio de 2020, quando o administrador Cristiano Ferraz viu surgir uma arena esportiva em frente ao seu escritório e foi testar suas habilidades com as raquetes. Gostou tanto que se tornou habitué. Mas havia um “porém”: onde encontrar variedades de modelos e cores em roupas que atendessem ao seu gosto pessoal? Com experiência na área comercial e mercado exterior, detectou um grande potencial para desenvolver peças para os públicos masculino e feminino. Entre as primeiras iniciativas, criou modelos com cores vibrantes, como tons em neon, ganhando muito a preferência do público. “A energia do beach tennis combina muito com cores marcantes, mas também tenho modelos em paleta mais neutra para atender a determinados perfis de esportistas”. A Bravo também conta com duas lojas físicas, uma em Porto Alegre e outra na praia de Atlântida. E, em dezembro de 2021, passou a oferecer raquetes marca própria
www.bravobt.com.br
@bravobeachtennis
ALGUMA DÚVIDA?
“Como praticante do esporte, há tempos eu já vinha pensando em sugerir uma pauta dedicada ao universo do beach tennis, mostrando o crescimento do esporte no Brasil, a paixão arrebatadora, os núcleos sociais e as “tribos” que se formam, a necessidade compulsiva de jogar e competir, o apelo democrático e agregador etc., mas quando vi o frisson e a proporção que tomou com transmissão pela SporTV da Copa do Mundo de BT, percebi que esse tema era obrigatório. Para quem achava que beach tennis era só uma febre ou esporte de modinha, equivocou-se tremendamente. A influência que a paixão decreta na tomada de decisão da galera é surpreendente. Conheço amigos que fazem sua agenda profissional baseada no horário de treinos e jogos, trips e roteiros paradisíacos que são eleitos porque lá terão campeonatos de BT como atração, seja nas areias de Aruba ou do nordeste brasileiro, tudo é pretexto pra levar a raquete e os acessórios imprescindíveis que vão desde roupas de cor neon, mochilas com o selo “professional”, até brincos e pingentes de ouro em forma de pequenas raquetes. O importante é refletir o que o coração manda e o que a alma traduz. Ainda não se pode dizer por quanto tempo essa curva será ascendente, mas dá pra apostar, com certeza, em longevos anos. Enquanto isso, quadras de paddle ganham cobertura de areia e redes altas, incorporadoras de alto padrão, resorts e parques dão holofotes para suas quadras de BT, a mídia esportiva contrata comentaristas especializados, shoppings centers roubam vagas de estacionamento para criar espaço para o BT, casais discutem relações durante as partidas, e a vovó e a titia que não jogavam e ficavam na frente da tv, agora, sentam-se numa arquibancada e, entre um ponto de tricot e outro, espiam a neta ou neto darem um smash no peito do amigo e gritam: - não vão se machucar, hein?! Definitivamente, o BT, veio pra ficar.”
Marcelo Tovo
Editor Revista Onne & Only