Turismo Gastronômico

EXPEDIÇÕES COM GARFO E TAÇA

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São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, entre as regiões que a Brasil Food Safaris já levou seus grupos de viajantes / Foto: Divulgação

Por Criz Azevedo

Comer e beber está entre os maiores prazeres da vida. E quando esse momento traz uma combinação de experiências com paisagens que fogem ao cotidiano, a satisfação pode estar em singelezas e pequenos luxos, como matas e florestas para caçar cogumelos, nas visitas a feiras de rua de uma charmosa província rural, no compartilhamento de saberes de um chef local em uma viagem, na história de um vinho contada pelo proprietário em sua cave.

ROTAS DAS UVAS E OUTRAS PAISAGENS

Narrativas sobre vinhos de forma descomplicada, leve e agradável, com conteúdo consistente sobre o que está por trás daquele rótulo, vinhedo, região. Associado a isso, um almoço sob uma parreira, ou um jantar harmonizado numa sequência de serviços em que cada etapa é apreciada com taças em punho. Pois a Vinho e Arte, de Maria Amélia Duarte Flores, graduada no Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia em Bento Gonçalves, com estágios na Chandon e vinícolas da argentina Mendoza, desde 2003 realiza viagens e experiências em que o vinho seja o fio condutor.

Há degustações que acontecem tanto em Porto Alegre, no seu espaço dentro do Hotel Plaza San Rafael, quanto em restaurantes como Koh Pee Pee, Le Bateau Ivre. E os passeios podem ser na Serra Gaúcha, na região da Campanha do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina onde concentram-se os vinhos de altitude. “Razões para percorrer as estradas por este Brasil não faltam. E elas estão sendo cada vez mais apreciadas pelos enófilos em vista das restrições com relação à pandemia”, justifica Maria.

Mas não só de terroir brasileiro os pequenos grupos de Maria Amélia vão explorando o mapa das uvas. Países como Uruguai, Argentina, Chile, França, Itália, Espanha, Portugal, África do Sul, já receberam brasileiros ávidos por brindar nessas paragens, sedentos por conhecer a história do lugar, conversar com o enólogo e o proprietário, culminando com um almoço memorável, ou um jantar de girar guardanapo com tanta energia boa, preparado por um chef convidado.  Bem provável que os clientes criem uma confraria no WhatsApp para terem um novo pretexto para se encontrar. Em uma mesa, viram “novos amigos de infância”, trocam impressões sobre a bebida de Baco, relatam curiosidades de suas vivências em adegas. Afinal, o vinho incita a sociabilidade. Para saber sobre os roteiros de Maria, acesse a programação via @vinhoearte.

@vinhoearte

Vinícola Dal Pizzol, em Bento Gonçalves, um dos roteiros da Vinho e Arte / Foto: Criz Azevedo
Campos de lavanda na Provence, na França, em um dos roteiros da Vinho e Arte /

IMERSÃO NA CULTURA GASTRONÔMICA LOCAL

A lembrança da avó preparando quitutes faz parte das memórias afetivas do chef mato-grossense Paulo Machado que se inspirava na matriarca criando seus próprios sanduíches, aos 10 anos de idade. A vida o levou para São Paulo para estudar Direito e completar uma pós-graduação, mas não se via atuando o resto da vida como advogado. Curtia assistir a programas de culinária pela TV e testar receitas. Após uma passagem por Lyon, na França, para cursos na escola do mestre Paul Bocuse, decidiu que direcionaria sua carreira para a cozinha. Trabalhou em restaurantes, graduou-se em Gastronomia, bem como um mestrado na área pela escola Anhembi-Morumbi. Dedicou-se à vida acadêmica e criou o Instituto de Pesquisas em Patrimônio Alimentar Paulo Machado, trabalhando com consultoria e assinando cardápios de cozinha regional quando requisitado.

O conhecimento sobre alimentos o fez ser convidado para eventos nas embaixadas do Brasil para cerca de 15 países, e apresentar pratos da nossa culinária. Não demorou para que as pessoas perguntassem se poderiam viajar com Paulo. Então, surgiu a ideia de criar o Brasil Food Safaris com a sócia Polliana Thomé, que realiza viagens para lugares exclusivos com foco na gastronomia local.

Em suas expedições, há aulas práticas com cozinheiros e chefs daquela região, visita a mercados públicos com o grupo, bem como atrações que envolvam cultura e natureza, com a presença de um anfitrião local. “Mais de 120 pessoas já viajaram conosco, movidas pela paixão à gastronomia”, destaca Paulo.

Entre os países que a Brasil Food Safari levou seus grupos destacam-se Japão, Eslovênia, Peru, Colômbia, e estão sendo desenhados roteiros para Nova Iorque, Itália, França, regiões dos Pirineus, Catalunha, olivais na Espanha, país que atualmente Paulo vive.

Na geografia brasileira, Porto Alegre, Serra Gaúcha, Pantanal, Amazônia já marcaram presença, sendo que, em janeiro de 2022, tem Vale dos Vinhedos, e Amazônia em fevereiro. Para saber sobre os roteiros, acesse o site brasilfoodsafaris.com

@foodsafaris

Paulo Machado nas experiências gastronômicas do Parador Hampel em São Francisco de Paula / Foto: Tatiana Feldens

CESTA NA MÃO E COGUMELOS NA MIRA

Imagine você caminhando numa floresta, com uma cesta em mãos, indo caçar cogumelos, identificar espécies, inclusive aquelas de cor vermelha muito viva como das ilustrações tradicionais da literatura infantil. A cena pode remeter a algo lúdico, e você incorporar um personagem de um conto dos Irmãos Grimm ou Charles Perrault. No entanto, não é ficção. Acontece bem perto de nós, seja no outono na Serra Gaúcha, seja em temperaturas quentes e úmidas do sudeste brasileiro e outros biomas. Vivenciar esses momentos têm sido uma das experiências criadas pelo biólogo Jeferson Müller Timm.

Fã de cogumelos, já gostava de desbravar matas e praticar um de seus hobbies, a fotografia, bem antes de ser bolsista de um grupo de pesquisa no Mestrado em Engenharia Civil pela Unisinos. Na universidade registrou e catalogou um rico material que estava quase destinado a ficar engavetado quando acendeu a luzinha de lançar um livro. Mas como viabilizar uma publicação impressa e ter venda garantida? Então lançou um crowdfunding (financiamento coletivo) pela internet. “Para divulgar o livro e conquistar adesão de potenciais compradores, tive a ideia de levar a experiência de campo - a caça aos cogumelos - para pequenos grupos, ensinando sobre quais são comestíveis, quais são tóxicos, como fazer a coleta, como limpar, como armazenar, o porquê usar cesta e não saco plástico”, destaca Jeferson.  Além disso, foi preparado um almoço pelo chef Marcos Livi, proprietário do Parador Hampel, em São Francisco de Paula, com cogumelos.

Isto foi em 2018. De lá para cá, outras edições aconteceram, incluindo chefs como Rodrigo Bellora, do Valle Rustico, em Garibaldi, Giordano Tarso, do Colheita Butique Sazonal, em Pinto Bandeira, além de oportunidades apenas com gastronomia para divulgar seu crowdfunding. E o objetivo foi alcançado ainda em 2018, com 1.500 livros esgotados.

Neste momento, Jeferson está trabalhando na campanha para a próxima edição revista e ampliada do livro “Primavera Fungi – Guia de Fungos do Sul do Brasil”, (sim, o cogumelo é um tipo de fungo). Para saber quando acontece os próximos eventos, acompanhe: primaverafungi.com.

@primaverafunghi

Jeferson Müller coletando cogumelos na Serra Gaúcha em uma de suas atividades de campo / Foto: Tatiana Feldens

BAGAGEM RECHEADA DE SABORES

Tão ou mais lotadas que as malas do chef Vico Crocco com temperos são os carimbos em seu passaporte. Um dia ele está no Brasil; outro no Uruguai. Semana que vem pode ser na Suíça, ou alguma cidadezinha no interior da França, Bélgica, Alemanha e além-fronteiras. Desde a adolescência já era um globe-trotter, tendo morado nos Estados Unidos para realizar intercâmbio e, na sequência, países da Europa, 12 anos deles na Alemanha.

A dedicação à gastronomia aconteceu de maneira orgânica, enquanto cursava Engenharia de Produção em Munique. “Até que decidi pela arte de cozinhar, estudando em escolas referência como a JRE Akademie, junto ao Rio Mosel, terra dos melhores vinhos Riesling do mundo, trabalhando em restaurantes estrelados pelo Guia Michelin e com chefs renomados: Ulf Dörge, do Walter&Benjamin; Harald Russel, do Rüssels Landhaus St.Urban, ambos na Alemanha; Peter Goossens, do Hof Van Cleve, na Bélgica”, conta Vico.

De volta ao Brasil em 2012, assinou cardápios e cozinhou em várias oportunidades para eventos, não somente em Porto Alegre, sua terra natal. Embaixadas do Brasil em Paris, Roma, Berlim fazem parte do currículo de Vico, levando técnicas da cozinha internacional para pratos brasileiros numa leitura própria contemporânea.

Nas suas viagens, carrega uma mala lotada de insumos para seus preparos, que volta abarrotada com ingredientes do país que está visitando. Em uma delas, viajou como convidado à Provence, acompanhando um grupo de brasileiros hospedados em uma antiga vila nas colinas Gordes du Verdun, incluindo no roteiro feiras de rua para escolher os itens que fariam parte dos almoços e jantares.

Atualmente, divide-se entre Porto Alegre e Manantiales (Maldonado – Uruguai), cidades onde a família Crocco, por meio do Crocco Studio, tem suas bases há muitas décadas, desenvolvendo projetos em design, e há mais de cinco anos no Uruguai a construção de uma relação profissional também pela gastronomia. Nestes espaços, o chef costuma realizar degustações para grupos fechados e eventos abertos. Entre as iniciativas já realizadas no Crocco Studio em Porto Alegre destacam-se almoços e jantares temáticos com pratos da culinária de regiões que têm grande intimidade – Bahia, Comida do Cerrado, Portugal, Alemanha, França – suas expedições por meio da comida.

@vicocrocco

Vico Crocco realiza eventos particulares e abertos ao público em seus studios no Brasil e Uruguai, além de iniciativas em outros países quando requisitado / Foto: Divulgação