Arte - Fábio André Rheinheimer

NO ATELIER, COM NELSON WILBERT

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No início dos anos 90, embora ainda na condição de universitário, Nelson Wilbert já participava de exposições e salões de arte. Porém, somente a partir de 93, já graduado, participou assiduamente de vários projetos, entre eles “Desenhos e Pinturas” no Projeto João Fahrion. E, desde então, realizou muitos outros: “Intersecção”, em 2004; a mostra “Remix”, em 2011 - marcada pela apropriação, norteada pela obra serial de Andy Warhol, onde o retrato e a repetição passaram a dominar sua produção. E, em 2016, a coletiva “Conversas”, do Grupo 3X4, que acompanhou o livro “3x4 VIS(I)TA”, projeto realizado juntamente com outros colegas artistas. Sempre solícito, Nelson Wilbert gentilmente atendeu a esta coluna.

Nelson, transcorrido muitos anos de atividade profissional, como relacionas o fazer artístico a tua trajetória nas artes?

“A trajetória do artista está diretamente ligada ao processo de trabalho. Encaro-o como um campo em expansão, aberto ao improvável. As descobertas geralmente são acidentais. Intervalos, mudanças radicais de rumo, embora pareça contraditório dizer, também são fios condutores, pois o processo de um artista não é uma linha reta. É preciso tempo para perceber as escolhas determinantes, muitas feitas de forma inconsciente. Prefiro, então, destacar procedimentos técnicos e motivações dentro de uma produção específica, um recorte que descreve o trabalho que desenvolvo atualmente.”

Como a tecnologia é empregada em teu trabalho?

“Tenho observado práticas recorrentes a partir do uso do computador, quando comecei a fazer projetos mais detalhados para pintar. Antes desta ferramenta, os projetos eram esboçados manualmente, sem estudos aprofundados, mas já havia ali uma intenção, construída a partir de referências da história da arte, mais especificamente da história da pintura.”

Qual é a relevância do elemento pictórico em teu trabalho, e como o selecionas?

“Certamente a relevância pictórica das obras que entram na minha pesquisa é considerada, mas as escolhas são quase sempre intuitivas. Determinante mesmo é a possibilidade que essa imagem oferece, quando associada à outra, de gerar novos sentidos para mim. Para misturar um retrato de Leonardo da Vinci à um padrão formal de William Morris, por exemplo, onde linhas e cores de sistemas diferentes colidem, uso programas que me permitem sobrepor imagens em transparência de forma controlada, até o ponto em que possam ser percebidas simultaneamente. Este novo traçado será posteriormente transferido à tela, onde receberá a primeira camada de tinta, demarcando assim espaços e cores. Como a cor aplicada, neste ‘mapa’, reage inevitavelmente ao entorno, encontrar a tonalidade correspondente ao projeto é a etapa mais demorada do processo. É uma lenta ‘orquestração’, onde inúmeras camadas de tinta e tratamentos pictóricos específicos se alternam e se repetem.”

Nelson, as tuas obras têm por característica recorrente serem vibrantes, coloridas. Qual o critério para definir a paleta de cores a serem empregadas numa obra?

“Interessa-me, aqui, onde insisto uma aproximação com o projeto, estabelecer uma relação com a cor da referência. Não exatamente manter a fidelidade, mas tentar não perder totalmente a ligação com essa cor. Uma pintura de cinco séculos, por exemplo, passa por alterações físicas em muitos aspectos, inclusive na intensidade dos pigmentos. Mas sofre, sobretudo, alterações maiores quando reproduzida, eficientemente ou não. A cor é inevitavelmente alterada por diferenças como RGB (red, green, bleu) e CMYK (cyan, magenta, yellow, black), diferenças básicas entre uma imagem impressa e uma imagem digital, por exemplo, além da intensidade de luz em que cada monitor é regulado, ou seja, são inúmeras as diferenças no que diz respeito ao que vemos de fato nessa reprodução.”

Como selecionas as referências visuais, os arquivos disponíveis? 

“A maioria dos arquivos disponíveis na internet são digitalizados, mas mesmo trabalhando a partir de uma foto digital recente da pintura, sei que não estou diante da paleta do pintor. Porém, acredito que, considerando as possíveis alterações, a paleta permaneça no DNA da sua reprodução. De qualquer forma ainda é um registro das escolhas daquele pintor, um resquício dos pigmentos daquela época, uma atmosfera da luz daquele instante, impressos nas cores que podemos ver hoje. A preservação de uma obra através da sua reprodução talvez seja tão importante quanto a conservação do próprio objeto. Seria possível a ‘aura’ estar presente também na informação que é levada adiante, mesmo que seja apenas um registro, uma memória?.”

Fotos: Nelson Wilbert

Fábio André Rheinheimer, arquiteto, artista visual e curador independente, participou de diversas exposições coletivas, exposições individuais e salões de arte.  Atua profissionalmente nas áreas de arquitetura e artes visuais, em Porto Alegre, onde reside.

(51) 98182 5595

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