Por Miriam Runge
Ambientes nunca são neutros. Eles impactam você de forma positiva ou negativa. Claro que nada é tão simples assim como parece e este tema complexo da nossa relação com os espaços que vivenciamos todos os dias é o que compõe o foco de estudos da inovadora Neuroarquitetura. Mas o que significa exatamente este termo?
É um estudo da arquitetura que se apoia em pesquisas científicas sobre como nós, seres humanos, reagimos de forma comprovada aos ambientes. De que forma nossa percepção e nossas emoções são impactadas pelo espaço, pelas cores, pelas formas e por tantos outros componentes que formam os espaços. Nossas reações corporais inconscientes são analisadas, para onde olhamos, a temperatura do nosso corpo, qual a área cerebral mais ativada em determinada situação ou estímulo.
E aí surge a pergunta: ambientes poderiam ser projetados para se comunicar? Um espaço pode sorrir? Será possível projetar um espaço onde as pessoas sintam-se acolhidas, onde se sintam à vontade mesmo não sendo sua casa? É possível criar um ambiente destinado a uma clínica que não se pareça com uma? Podemos criar uma recepção de clínica que sorria quando alguém passar pela porta?
DIVERSIDADE
Dinâmico e inclusivo, o projeto traz também acessibilidade quando coloca diversas formas de se acomodar na recepção: a tradicional fileira de cadeiras iguais é substituída por pequenos nichos individuais, onde se pode ler em braile ou libras, e a mesma mensagem é traduzida em diversas formas de entendimento. Você pode se sentar em poltronas, bancos, pufes, ou até mesmo no chão. Cadeirantes possuem um espaço especial com a mesma experiência lúdica presente nos bancos e nichos. As crianças encontrarão uma casinha encantada onde poderão se sentar, desenhar com giz ou inventar histórias com o sol sempre a brilhar no horizonte. Na parede, um revestimento que lembra a escrita em braile. O balcão que recepciona sem criar uma barreira e foge dos modelos mais tradicionais. Um espaço que se comunica, que acolhe a diversidade. Portas e salas coloridas ajudam na fácil identificação dos consultórios. Palavras como respeito, amor, liberdade, união, amizade e amor, estampam as portas dos banhos na representação mais lúdica do projeto: poucas palavras que comunicam tanto!
E agora que o projeto está executado e sendo utilizado, eu posso responder a esta pergunta que os clientes me fizeram lá no início: Podemos criar um espaço que sorria? Eu respondo que sim!! A Neuroarquitetura chegou para que possamos criar espaços com propósito, que nos impactem e nos ajudem de forma cada vez mais positiva, que ajudem a curar, a trazer felicidade e que efetivamente nos ajudem a construir um mundo melhor para TODOS, literalmente!!
O PROJETO
Este foi o briefing da clínica Neurodiverso, em Porto Alegre, com o uso de elementos de Neuroarquitetura para que, cada usuário-paciente pudesse sentir liberdade e inclusão. Com foco em atendimento multidisciplinar e assistência integral para aqueles que possuem formas variadas de aprender, falar, se comunicar ou até mesmo de se relacionar, o espaço precisava demonstrar e representar esta diversidade.
Por ser especialista e pesquisadora em Neuroarquitetura, fui chamada para criar e traduzir este projeto que nascia da ideia de seus criadores: “Não queremos algo convencional, uma clínica tradicional. Precisamos de algo que represente a alma do trabalho que pretendemos desenvolver...”, disseram-me os clientes. Um espaço lúdico, divertido, diferente de tudo.
DESIGN BIOFÍLICO
Baseada nos princípios da Neuroarquitetura e do design biofílico, o projeto propôs como elemento principal uma grande e cenográfica árvore, na recepção, que representa a vida em crescimento. Suas folhas e galhos se transformam em nuvens coloridas, para representar a expansão e a ausência de limites. O design biofílico é um pilar da Neuroarquitetura, e busca, em sua essência, representar a relação natural e inconsciente que temos com a natureza. Esta representação pode vir de elementos da natureza, neste caso, a grande árvore, texturas que nos remetem ao aconchego e que aqui aparecem na madeira para o mobiliário. O acesso às salas de atendimento do térreo e ao café, assim como ao complexo que cerca o auditório para eventos, se dá através de um corredor com iluminação natural, onde o projeto propôs uma grande parede verde, piso em grama, pedras texturizadas e vegetação. Para completar esta experiência sensorial, foi somado o sentido da audição: cantos de pássaros ecoam no espaço onde a tranquilidade e harmonia permitem calma e relaxamento. Aromas delicados lembrando flores e ervas completam a experiência.
Miriam Runge é arquiteta e urbanista, especialista em Neuroarquitetura e Neurobusiness, docente convidada de pós-graduação na PUC-RS e IPOG Brasil, criadora do Método Sensory e também colunista desta revista durante suas primeiras 10 edições.
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Porto Alegre-Gramado-Brasil