Artes Visuais - Cézar Prestes

TOMIE OHTAKE

TOMIE OHTAKE

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SEIS DÉCADAS DE PINTURA ENFOCA SEIS DÉCADAS DA OBRA DA ARTISTA

É impressionante a força da arte para nos elevar a alma. E da marcante pintura de Tomie Ohtake em particular. Tive o prazer de conhecer a figura delicada, mas com um talento gigante que viveu até os 101 anos. A artista construiu extenso currículo com participação em mais de 500 exposições, 20 bienais internacionais e obras em mais de 25 instituições internacionais e em cerca de 30 locais públicos no Brasil. Hoje dá nome ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, projetado pelo seu filho, Ruy Ohtake, arquiteto com obra caracterizada pela plasticidade de linhas curvas, muitas vezes unidas a cores marcantes, falecido em 2021. O DNA criativo de Tomie Ohtake alcançou a geração do neto Rodrigo Ohtake, arquiteto e designer de produto que dá seguimento à história de seus antepassados. Digamos que ambos tiveram a quem puxar.

Estive com a artista nascida no Japão e naturalizada brasileira no seu hábitat paulistano e também acompanhei as exposições realizadas na capital gaúcha – em uma delas participei como galerista. Depois, a mais recente ocorreu no inverno de dez anos atrás, na Fundação Iberê Camargo, quando foram mostradas obras produzidas até pouco antes das criações que compõem a exposição atual. Esta curadoria, reafirmada pelo Studio Prestes, do qual sou diretor, com obras selecionadas entre os acervos de colecionadores do centro do país, marca a agenda do verão em Porto Alegre, de 14 de dezembro de 2022 a 25 de fevereiro de 2023, configurando uma sequência providencial para a cena cultural, logo após a Bienal do Mercosul.

Este panorama escolhido tem a consistência de um recorte de tempo que passeia por 60 anos de pintura: são 12 obras a óleo e tinta acrílica sobre tela, criadas de 1967 até 2013, dois anos antes de sua morte.

    A sua apreciação leva o espectador a desfrutar de um mundo de imensa força pictórica e sensorial – mesmo que não tenha conhecido as fases anteriores da artista, atende ao chamado de sua arte. Desde o colorido estimulante, até as superfícies com incursões pelas formas – com sinuosidades e eventuais retas – levam a diferentes viagens pelo espaço sideral ou por propostas características de sua obra de abstracionismo informal que chegam a sugerir silêncio ou sons se ficarmos observando por algum tempo. As diferentes texturas geradas pela facilidade de colocar os materiais a serviço do talento, tudo estimula a experiência sensorial. E a artista deixa a percepção de cada um se encarregar de dar nome às obras, talvez em respeito às diferentes bagagens dos espectadores.

 

TOMIE OHTAKE | Seis décadas de pintura é a primeira realização da parceria entre Almeida & Dale, de São Paulo, e Studio Prestes, de Porto Alegre. Almeida & Dale Galeria de Arte, fundada em 1998 em São Paulo, é uma das mais relevantes do país, com operação internacional – neste momento, realiza até 30 de janeiro de 2023, na Embaixada do Brasil em Roma, a exposição que comemora o centenário de Rubem Valentim. A individual de Tomie Ohtake conta com a importante realização do Instituto Ling, junto com as duas empresas das artes visuais. Todas as três instituições estão reunidas em torno de uma das maiores expressões da arte brasileira, uma unanimidade entre os mestres do abstracionismo.

 

Fotos: Sergio Guerini

Cézar Prestes, gestor cultural, marchand e curador. Teve atuações como Secretário de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico, Museus e Arquivos do RS, Museu de Arte do RS Ado Malagoli (MARGS), diretor e curador do Centro Cultural Aplub e das suas galerias Grafite e Cézar Prestes Artte. Entre suas ações, como diretor do MARGS, realizou a exposição Arte na França, que atraiu 37 mil visitantes do Brasil e do exterior.

@cezarprestes