Ativos Digitais

OBRAS DE ARTE EM NFT

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Obra de Bruno Militelli - Fotos: Bruno Militelli

O ano de 2022 fica marcado pela casa de leilões inglesa Sotheby’s disponibilizar a venda de mais de 5 mil imagens do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado em NFT (tokens não fungíveis). Tal feito é considerado único devido ao grande acervo de um artista ainda vivo e nesta tecnologia. As imagens compõem registros de mais de 10 anos pela Amazônia, além de contar com um curta metragem, recebendo o nome de “Tree of Life”, que faz parte do projeto “Sebastião Salgado: Amazônia.”

Mas, afinal, o que são NFTs? É um ativo criado a partir da tecnologia blockchain – espécie de banco de dados compartilhado que registra e grava as transações digitais dos usuários de forma segura –, que serve como identidade digital de um item. E este item pode ser carro, casa, vestuário, obra de arte, foto, vídeo, game, GIF, música, ou seja, um universo de possibilidades colocadas à venda, comercializadas por criptomoedas. Entre as mais usadas e seguras do mercado estão a Bitcoin (BIT) e a Ethereum (ETH).

Para adquirir uma obra de arte NFT, o comprador/colecionador abre uma carteira digital, que pode ser via MetaMask, uma das mais fáceis de operar, além de ser aceita na maioria das plataformas de tokens não fungíveis. Depois de instalar a MetaMask, o usuário precisa se conectar ao marketplace que consta o produto digital/arte que pretende comprar. OpenSea, Foundation, SuperRare, por exemplo, são grandes marketplace de NFTs. No entanto, ele ainda precisa abrir uma conta em uma corretora que trabalha com criptomoedas, sendo a Binance uma das mais populares. É por meio da corretora que se realizam as transações de compra e venda de NFTs, e é onde ficam guardadas as criptomoedas dos usuários.

Obra de Bruno Militelli - Fotos: Bruno Militelli

O artista visual Bruno Militelli, 35 anos, de São Paulo, trabalha com macro fotografia (detalhes de seres vivos ou objetos, nem sempre perceptíveis a olho nu), comercializando suas obras em fine art (imagens autorais impressas em altíssima qualidade que trazem o olhar particular do autor), em parceria com arquitetos, lojas de decoração e via Instagram [@bruno.militelli], com tiragem limitada para cada obra. Começou a estudar NFT na pandemia. Em 2022, já estava com duas coleções vendidas e esgotadas via Sloika [ https://sloika.xyz/], marketplace exclusivo para fotos NFT, num período que o mercado estava aquecido. No caso da Sloika, esta não é aberta para qualquer artista que quiser fazer parte. Para ingressar, é preciso ser aceito pela plataforma que faz uma curadoria dos fotógrafos. “Fiz experimentos, registrando fenômenos óticos, como iridescência [reflexos brilhantes, perceptíveis quando a superfície revela ondas de luz e o olho vê várias cores]. Fotografei esse fenômeno em bolhas de sabão. Percebi que esses registros trazem algo mais gráfico, moderno, e que, às vezes, não funcionam no fine art, mas se destacam no digital, como a NFT”.

De acordo com Bruno, que está desenvolvendo nova coleção, a monetização por criptomoedas segue uma lógica parecida com o mercado de ações na bolsa de valores. Cada NFT tem um preço fixo, mas o valor varia de acordo com o mercado, pois se baseia na lei da oferta e procura. Uma de suas imagens, por exemplo, teve preço fixo de 0,2 Ethereum [ETH], que em fevereiro, devido ao período de alta, valorizou mais de 5mil reais. No entanto, esta mesma obra se fosse vendida em novembro de 2022, renderia cerca de 1.700 reais.

“Embora isso tudo pareça muito estranho, e por ser algo relativamente novo, criado em 2017, é um mercado que tem um público que vê valor neste formato de arte digital e paga por ele. Os colecionadores, na verdade, são quem faz esse mercado se movimentar. E o artista pode autorizar, ou não, um tipo de licença que permita ao comprador/colecionador imprimir em fine art aquela obra”, explica Bruno, que sinaliza em suas redes a ferramenta “colecionáveis digitais” da Meta, disponível no Instagram e no Facebook para qualquer pessoa que tenha uma carteira de NFT e queira postar nessas redes.

Site Sotheby’s Metaverso com obras de Sebastião Salgado

Tal recurso, é uma forma de lembrar que a tecnologia conversa perfeitamente com metaversos, tipo de experiência imersiva que a Meta e outras empresas disponibilizam, e onde pode guardar NFTs de todos os tipos, sejam eles obras de arte, viagens, carros, games, roupas, casas, ingressos de eventos, filmes etc. em que, alguns casos, a aquisição traz um benefício extra ao comprador, como acesso VIP a um show presencial, conhecer pessoalmente a fábrica que monta determinado carro ou artista. Ou seja, há um universo de possibilidades gigante que o mundo digital propicia.

Museus aderem à cripto arte

Para se ter uma ideia do quanto as NFTs têm movimentado o cenário das artes, obras físicas valiosas de artistas como Pablo Picasso, Francis Bacon, Pierre-Auguste Renoir e Auguste Rodin foram a leilão em pré-venda que se iniciou no mês de setembro, com a estimativa de arrecadar 70 milhões de dólares ou mais em Nova York e Londres. Parte da arrecadação tem por objetivo financiar a expansão do acervo digital do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), que deverá criar um canal de streaming e adquirir criações em NFT, entre outras ações.

A ideia de incrementar o digital se deu, também, pela queda de presenças no MoMa, por causa da pandemia. Com isso, o museu registrou uma baixa de comparecimentos em cerca de 45%, em 2021, obrigando a desenvolver novos produtos, incluindo novos passeios virtuais, propiciar mais cursos online, pois o braço educativo faz parte dos serviços da entidade.

Outro tema, este bem recente, e que prova o quanto a tecnologia NFT pode transitar bem no mesmo universo da arte física é a recente conferência “The Gateway: A Web3 Metropolis”, realizada no final de novembro e no início do mês de dezembro, em Miami, com palestras sobre colecionáveis digitais; leilão de NFTs pela tradicional casa Christie’s que tem uma área de negócios digitais, a Christie’s 3.0;  - aproveitando a oportunidade onde centenas de pessoas ligadas às artes visitaram o conhecido e prestigiado Art Basel Miami.

 

Como disponibilizar para venda uma arte NFT?

Muito se fala em colecionadores, altas e baixas do mercado, mas, e o artista? Entre as marketplaces que dispõem desta tecnologia, vale ressaltar que nem todos os espaços são abertos. Alguns só comercializam cripto arte, - outra forma de denominar NFT-, que tenha passado por uma curadoria do espaço virtual.

E este processo de fazer parte de um seleto grupo pode ajudar a alavancar a carreira de um artista, principalmente se ele é novo neste mundo das artes e das NFTs. Além disso, uma rede social bem conhecida, o Twitter, é praticamente o fórum mais usado pelas galerias, colecionadores e artistas, desde que consigam se comunicar em inglês, idioma que predomina nessas comunidades.

Para colocar uma obra, coleção ou série à venda, as plataformas ensinam o passo a passo sobre como proceder, e o artista precisa ter uma carteira de criptomoedas, pois há taxas que são cobradas de quem vende, bem como de quem compra. Nela, então, é preciso depositar um valor, que pode ser Ethereum, o mais usado neste tipo de operação.

Mas como comprar uma moeda que só existe no mundo virtual? Seja para adquirir arte NFT ou apenas investir, essas moedas digitais movimentaram no Brasil, em 2021, cerca de 300 bilhões de reais, segundo um levantamento do Banco Central. Entre as formas de comprar estão as corretoras, a exemplo da já citada Binance. O usuário, seja ele artista ou comprador, pode trocar o seu dinheiro - reais, dólares, euros etc., por criptomoedas.