Onne Fashion Talks - Madeleine Muller

A MODA E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A MODA E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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    Cada vez mais nos deparamos com imagens produzidas através de Inteligência Artificial (IA) e, desde que o Papa apareceu em março nas redes sociais com uma bela jaqueta estofada branca (criação da MidJourney, um gerador de imagens), até a Vogue se enganou, achando ser de verdade. Esses looks vestidos por famosos ou não, estão pipocando nas redes com uma frequência cada vez maior. Editoriais, desfiles e uma avalanche de posts de todos os segmentos da moda, do esporte ao luxo, impressionam com o realismo das fotos, na verdade imagens recriadas a partir de elementos que já existem (ou não), questionando o que é real em meio a tanta tecnologia de ponta. 

    Impossível não refletir como a indústria da moda vai funcionar dentro dessa realidade onde o futuro, certamente, já é. Sim, você leu bem: estamos vivendo no mundo da moda o início de uma nova era - um admirável mundo novo reload - onde ainda não sabemos todos os desdobramentos que virão, mas já sentimos as mudanças desde agora, bastando observar iniciativas relativas aos processos e à comunicação das marcas, orientadas por um mercado cada vez mais pautado em inovação, inclusão e sustentabilidade.

Foto: midjourney/reprodução

    Estamos acostumados a ver várias pessoas envolvidas num shooting ou numa campanha de moda, certo? São vários talentos reunidos pensando na melhor solução para a composição de imagens que venderão o produto ou serviço do cliente da forma mais atrativa, através de um conceito. Claro que não bastam apenas imagens, mas elas são muito importantes para os consumidores de moda, que fazem suas leituras e escolhas através dessas narrativas visuais. Mas e se toda essa função, que às vezes leva dias desde a pré-produção, passando pela execução e a pós-produção, fosse feita exclusivamente com IA? No lugar de fotógrafo, modelo, stylist, produtor, maquiador, assistente de fotografia, editor e tantos outros profissionais envolvidos, uma nova dinâmica onde é necessário apenas a Inteligência Artificial e alguém para descrever como quer o projeto. Você deve estar se perguntando se isso é bom ou ruim, ou como irá funcionar, na prática, já que muitos postos de trabalho ficariam obsoletos - quem lembra da figura do ascensorista? De fato, muitas profissões talvez deixem de existir, ou se reconfigurem, mas o certo mesmo é que novas profissões e habilidades surgirão, também, a partir das novas necessidades. O mercado não se transforma sozinho, as mudanças nas sociedades refletem aspectos culturais, políticos, econômicos, sociais, e a tecnologia acompanha essas evoluções, às vezes de forma até mais rápida do que conseguimos assimilar.

    Na moda, a Inteligência Artificial pode ser usada para entender o comportamento humano, principalmente no que se refere ao consumo. Por conta disso, ela vem sendo aplicada para prever tendências e acertar na escolha das novas coleções. Muitas marcas aprenderam no pós-pandemia a analisar os dados e a refinar a observação sobre as preferências de seus clientes, gerando dados úteis para criar um algoritmo que auxilia em novas produções mais assertivas e com menos desperdícios, a fim de atender às expectativas de seus consumidores e auxiliar na melhor utilização dos recursos.

 

Fotos: Unsplash

    Para isso, analisam dados sobre vendas realizadas, interações nas redes sociais, e até mesmo rejeições ou devoluções de itens são usados para prever o gosto do público nas próximas estações, com menos erros. A Inteligência Artificial tem ajudado a processar todas essas informações e a agilizar a confecção de novas linhas, que conseguem ser concluídas em menos tempo, com mais eficiência e menos estoque.

    Fora do país, uma das marcas precursoras no uso da IA para entender e antecipar tendências foi a Tommy Hilfiger, que priorizou o uso da tecnologia para identificar padrões, cores, estilos e silhuetas na elaboração de suas coleções, sem perder sua identidade e adentrando ainda num segmento até então pouco explorado, o da moda inclusiva, a partir do design universal, ou seja, baseado em dados, mas pensado e adaptado para todos, em constante aprendizagem das reais necessidades.

    Com base na transição que vivemos, ainda não temos respostas para tudo, mas esperamos um futuro na moda que acompanhe as atualizações tecnológicas permitindo que as empresas usem os benefícios advindos para se aproximar do cliente, sem perder a humanização e as conexões que fazem sentido, a fim de atender demandas mais personalizadas, que ajudem as pessoas a se vestirem conforme suas especificidades e estilo pessoal. Em relação à sustentabilidade, que a IA possa sustentar tomadas de decisões ecologicamente corretas e que contribuam para a redução de lixo e de danos ao meio ambiente, criando novas formas de produzir e de consumir moda, com equilíbrio e bom senso.

Madeleine Müller, Stylist há 25 anos e produtora de moda. Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade
Fernando Pessoa(UFP-Portugal); Pós-Graduada em Moda, Consumo e Comunicação (PUC-RS) e graduada em
Direito (PUC-RS); Professora no Design de Moda da ESPM-POA; autora do livro “Admirável Moda Sustentável:
vestindo um mundo novo”; ativista do movimento Fashion Revolution. Acredita numa moda responsável e ética,
regenerativa de sistemas e agente de transformação social.
Contato: madeleine.muller@gmail.com
@madi_muller