Arte - Fábio André Rheinheimer

ALEX FLEMMING

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    Registros contundentes, narrativas poéticas de nosso tempo, as obras de Alex Flemming sempre me inspiraram; e quando o conheci pessoalmente, diante da elegância e gentileza que lhe é peculiar, ampliou-se minha admiração por este artista. Cordialmente, Flemming aceitou meu convite e disponibilizou as fotos desta matéria, que são de autoria de Henrique Luz. Ah, antes que me esqueça, informações complementares estão disponíveis em: www.alexflemming.com.br/; 
 
    Em torno do terceiro milênio antes da era cristã, o processo de sedentarização da humanidade é impulsionado pela produção do alimento, a consequente necessidade de garantir o domínio do território, e o implemento da técnica do tijolo cozido - que permitiu a livre concepção de formas arquitetônicas -, fatores que possibilitam o surgimento das cidades, ou mais precisamente dos embriões de que se tem notícia, os zigurates - templos surgidos nas planícies da Mesopotâmia. 

    

Quase que simultaneamente, eis que surge a escrita e, convenhamos, não é difícil associar o uso do tijolo — unidade geométrica padronizada — na concepção de formas arquitetônicas e a união das letras na formação das palavras; portanto, as cidades e a escrita desempenham relevante papel, enquanto registros, a fomentar a memória. Porém, muito antes de ambos os eventos ocorrerem, na Pré-História, eis que nossos ancestrais já propunham a representação de elementos constituidores da realidade e de suas respectivas vivências, eternizados em formações rochosas e cavernas. A esses apontamentos são atribuídas intenções ritualísticas [ou são considerados apenas como breves anotações do mundo ancestral], entre as várias possibilidades de interpretação que, em sua maioria, se apresentam reticentes [para não dizer incertas].

     Na atualidade, também os artistas visuais desempenham semelhante função de interlocutores de nosso tempo. Em sintonia a esse impulso, ou necessidade de comunicação [que se apresenta intrínseco à condição humana desde os primórdios dos tempos], Alex Flemming desenvolve sua obra há décadas, trajetória na qual se mantém coerente, com especial atenção ao homem contemporâneo, suas fragilidades, incoerências [e, até mesmo, suas desumanidades], as quais fomentam o fazer artístico e são traduzidas em obras.

Por entre desenhos, fotografias, pinturas e diversos materiais, Alex Flemming percorre há mais de 40 anos sua trajetória nas artes com desenvoltura, ciente do ofício e de sua relevância. Neste percurso, o homem no contexto urbano é objeto frequente de investigação: na série de fotogravuras “Natureza Morta” [produzidas na segunda metade dos anos de 1970, em que reproduziu cenas de tortura do regime militar], a qual lhe proporcionou uma bolsa de estudos da Fundação Fulbright, no Pratt Institute Manhattan, em Nova Iorque; na série Body Builders, corpos atléticos idealizados exalam sensualidade e erotismo, cujas “tatuagens” são mapas de sítios urbanos consolidados; e nos retratos de anônimos eternizados nas vidraças da Estação Sumaré do metrô em São Paulo.

     A liberdade de criação se expande por diversos suportes: animais empalhados; tapetes; móveis; calçados; roupas; nas malas de viagem estão impregnados fragmentos de escritos; e objetos do cotidiano — aspirador de pó, notebook, por exemplo — lhe são objeto de intervenções das mais variadas, porém sempre calculadas, espontâneas na medida certa.

     Nas séries de colagens são ressignificadas embalagens, folders publicitários, revistas, dentre outros materiais impressos, os quais discorrem para além da mera apropriação artística e, assim, resultam em mensagens simbólicas. Em sua trajetória impecável, que se desenvolve há mais de 40 anos, Alex Flemming registra seu tempo e o codifica em crônicas, relatos que transbordam poesia.

Fábio André Rheinheimer, arquiteto, artista visual e curador independente, participou de diversas exposições coletivas, exposições individuais e salões de arte.  Atua profissionalmente nas áreas de arquitetura e artes visuais, em Porto Alegre, onde reside.

(51) 98182 5595

 /fabioandre.rheinheimer 

 @fabio_andre_rheinheimer 

 art.far@hotmail.com