Vinhos - Cristian Silva

MADE FROM GRAPES

MADE FROM GRAPES

Cristian Silva - Foto: Kellen Mizerski
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      Essa frase do título não é minha, ela vem estampada nas cápsulas e rolhas dos vinhos da Testalonga, projeto sediado em Swartland, na África do Sul, do Craig e Carla Hawkins, que, com apenas pouco mais de 40.000 garrafas produzidas por ano, já se tornou sensação mundial, tendo seus vinhos caçados por enófilos no mundo todo!

     São produtores de uma nova geração nesse país que foi o primeiro do Novo Mundo a ter uvas viníferas e, portanto, vinhos finos. Que tem bem mais história que nós no mundo do vinho, sendo o 8º maior produtor do mundo (o Brasil aparece em 15º lugar), e que, durante muitos anos, teve um monopólio imposto na comercialização, impondo uma padronização no perfil dos vinhos produzidos, para atender ao mercado global (o foco lá é a exportação). Foi no meio da década de 1990 que esta regra caiu, junto com o final do Apartheid, e os vinhateiros passaram a ter liberdade para ditar suas vinificações.

     Mas como e por que um pequeno e jovem projeto (começaram em 2008) alcança o sucesso do Testalonga? E os uso aqui apenas como exemplo, são centenas de produtores e projetos que eu poderia citar que bem exemplificam a resposta a essa pergunta.

    Evidente que a escassez é um dos elementos de mercado que leva à precificação e demanda por determinado produto, tendo este um posicionamento de marca em que se crie desejo por seu consumo. Mas esse não é o caso destes projetos que falo, pois eles não têm esse investimento em marca e merchandising.

     Aqui temos de fato produtos diferenciados, que encantam justamente por serem expressão única de um lugar, uma cultura, um modo de fazer, frutas que, transformadas em vinho sem nenhuma adição de produtos químicos, preservam tudo que a natureza carregou naquela safra, expressam de fato as condições edafoclimatológicas existentes. Tudo isso é o que chamamos de terroir.

     Aqui temos aqueles vinhos que eu bebo, vinhos naturais por serem feitos apenas de uva, sem nenhuma manipulação no sabor que vão me entregar na taça. E só consumo esses não por radicalismo ou por saber que os outros não farão bem ao meu corpo, claro que isso também conta, mas, principalmente, porque só nesses vinhos encontro os sabores que me realizam. Só nesses vinhos não temos aquela padronização, o fio condutor das sensações ditas familiares para agradar a partir do que se convencionou ser o bom. Te convido a esta minha jornada de busca constante de novas e surpreendentes sensações, que me emocionem e realizem no beber cada taça. Sei que há muito para conhecer e que o melhor vinho da minha vida pode ser o da próxima garrafa que vou abrir, torço por isso todos os dias!

* Cristian Silva é especialista em vinhos naturais, Vinhateiro da Vivá Vinhos, fundador e curador da Casa Vivá, Queijista e Jurado do Prêmio Queijo Brasil e Mundial do Queijo. cristian.a.silva@me.com

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