As conversas sobre a enchente de maio de 2024 no Rio Grande do Sul ainda são muito presentes. Quando não é o lar sem teto de um amigo ou parente, é a empresa submersa que perdeu seus equipamentos. É a escola dos filhos sem biblioteca. É o animal de estimação perdido; o casario de uma rua com poucas paredes em pé. É o antigo móvel herdado da família arruinado; a foto dos avós manchada de barro. É a estrada afundada bloqueada por pedras; a ponte que não leva a lugar algum; o carro adquirido com economias de muitos anos, mas sem utilidade. Registros, estes, amplificados por jornais, canais de TV, rádios, portais de notícias e redes digitais, abalando o emocional da audiência.
Enchente de 1941
Se um fato como este é difícil esquecer, imagine acompanhar duas vezes um episódio climático incomensurável, em um espaço de 83 anos no tempo. O jornal Correio do Povo, fundado em 1895, viu novamente parte de suas instalações e parque gráfico ficarem debaixo d’água. Em 1941, a sede na rua Caldas Junior abrigava toda a estrutura do periódico: redação e maquinário. Em 2024, a parte gráfica, localizada no 4º Distrito, obrigou a equipe a produzir o diário apenas de forma digital.
Quem recorda flashes da enchente de 1941 é o aposentado Luiz Carlos Tovo, 93 anos. Odontólogo, escritor, professor da UFRGS, tendo sido agraciado com a Comenda da ABO (Associação Brasileira de Odontologia) pelos serviços prestados à classe: “Tinha 10 anos de idade, estudava no colégio Anchieta quando era na rua Duque de Caxias [Centro Histórico]. As aulas foram suspensas para dar abrigo a moradores da Cidade Baixa e parte do Centro. Lembro que vinham voluntários cozinhar no colégio. Nós, alunos, ajudávamos na busca e entrega de pratos, panelas e alimentos a outros bairros atingidos, como o Ilhota [próximo ao Arroio Dilúvio]. Meu pai, José, era sócio do renomado Novo Hotel Jung [Otávio Rocha com Marechal Floriano], que alagou cerca de 1 metro de altura, estragando os elevadores. Havia muitos moradores, entre civis e militares, no hotel. Ele era responsável pelas compras. Ia de canoa até junto ao Mercado Público, onde barcos vindos de São Jerônimo ancoravam para abastecer restaurantes e hotéis de Porto Alegre. Todos os dias, às 6 da manhã, ele fazia o trajeto.”
“Naquele ano, não tivemos mais aula, e isso se estendeu até julho de 1942. Mesmo depois das águas baixarem, a recuperação da cidade foi bem demorada, ainda mais se comparada com esta enchente de 2024, que apesar de ter sido mais abrangente e com prejuízos enormes, o retorno de alguns serviços fundamentais parece ter uma velocidade de reestruturação maior. Desejo que meus filhos e netos nunca mais vivenciem algo parecido”.
ATMOSFERA FORA DO PADRÃO
As razões que levaram à catástrofe no Rio Grande do Sul em 2024, contabilizando 478 municípios, 2.398.255 pessoas, com 27 desaparecidos, 806 feridos e 183 óbitos [Dados do Boletim da Defesa Civil de 20/08], foram uma soma de fatores. Na última semana de abril, na Região Central do Estado, fortes tempestades constantes e granizos sinalizavam que algo estava diferente do padrão atmosférico. Foi quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) deu o alerta devido à grande quantidade de chuvas como consequência de uma massa de ar quente sobre o Centro do país, bloqueando a frente fria presente na Região Sul. Isso fez com que a instabilidade permanecesse sobre o Estado gaúcho. Associado a isso, o fenômeno El Niño, que se caracteriza pelo enfraquecimento dos ventos alísios na direção Leste-Oeste, resultando em um aquecimento anormal e persistente do Oceano Pacífico, reforçou a instabilidade já mencionada. Com a intensidade das chuvas, ocorreram desmoronamentos de encostas, transbordamento de leitos de rios, avançando sobre estradas e pontes.
O fluxo hídrico das bacias da Região Central do Estado tem por característica se comunicar com quatro afluentes que desembocam no rio Guaíba, o qual margeia a capital Porto Alegre e os municípios Viamão, Barra do Ribeiro, Guaíba e Eldorado do Sul, para depois seguir rumo à Lagoa dos Patos e, na sequência, o Oceano Atlântico. No entanto, o volume e a continuidade de chuvas, por mais de 10 dias, sobrecarregaram os rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí, que transbordaram, invadindo municípios, fazendo com que o Guaíba atingisse 5,37 metros de altura no dia 5 de maio. Essa cota foi se formando ao longo de dias, derrubando diques e comportas com problemas de manutenção. Além disso, a direção dos ventos também agravou o escoamento. Não bastasse o Guaíba, o sistema de bombeamento d’água da capital ficou inoperante na maioria dos pontos, levando ao acúmulo de água que subiu a 1,60 metros em bairros da região do 4º Distrito. Com isso, serviços de energia elétrica e abastecimento de água ficaram desativados em grande parte da cidade.
TESTEMUNHA DO CAOS VIGENTE
Quem reportou in loco cenas que o mundo assistiu pela mídia também enfrentou desafios para transmitir a notícia, como relata a jornalista Lu Kohlmann, repórter da SBT TV: “Maio de 2024 foi um mês exaustivo para os gaúchos. Para a reportagem, não foi diferente. Num desastre, a maioria da população foge para se proteger. Mas os jornalistas estão entre os profissionais que atuam no ‘olho do furacão’. O desafio era enorme, porque, por melhor que fosse a câmera, nenhuma imagem retratava o que de fato víamos com os próprios olhos. Viajamos no dia 30 de abril para mostrar o início da enchente do rio Taquari na cidade de Estrela. Chegamos à tarde e fomos direto para o bairro Moinho. A água subia numa velocidade assustadora. Moradores corriam contra o tempo e tentavam carregar caminhões com móveis e objetos pessoais. Um dos abrigos da cidade já estava lotado às 18h. A cada minuto, chegava uma nova carreta com a mudança de uma família. Uma hora depois, quando deixamos o local, mal dava para circular dentro do ginásio. Naquela noite, dormimos num hotel em Lajeado. A chuva não dava trégua. No dia seguinte, o fatídico primeiro de maio, partimos para Encantado, a 30km dali, para cobrir deslizamentos de terra.”
“Na saída do hotel, talvez por intuição ou instinto de prevenção, decidimos levar as malas, mesmo com a ideia de retornar à tarde. A RS 130 já tinha faixas interditadas, mas era possível passar. Em Encantado, a chuva transformou ladeiras em córregos de água barrenta. Era impossível subir até as áreas em que encostas cederam. O sinal de telefone e o da internet caíram. Corremos até um posto de combustível com Wi-Fi para falar com a emissora em Porto Alegre. De lá, conseguimos entrar ao vivo no jornal do meio-dia.
No entanto, em seguida, este raro sinal também caiu, e perdemos a comunicação externa. Com a iminente tragédia, começamos a gravar os efeitos da enchente na cidade do Cristo Protetor. O rio Taquari já cobria as áreas mais baixas de Encantado. A fúria da correnteza carregava o que havia nas margens e pela frente. Não era mais possível identificar o leito original. Na volta para Lajeado, o asfalto acumulou muita água e exigiu atenção dobrada para evitar uma aquaplanagem. Das encostas, desciam cachoeiras. De repente, nos deparamos com um bloqueio, antes de Arroio do Meio: o rio cobria a estrada, e era impossível seguir. Pela primeira vez, não só faríamos a cobertura jornalística como vivenciaríamos uma tragédia jamais vista. Em poucas horas, todas as pontes e estradas ao redor de Encantado já estavam destruídas ou intransitáveis. Corremos para encontrar um hotel, mas aqueles que não estavam alagados encontravam-se lotados. Não éramos os únicos presos na cidade. Um dos postos de combustíveis virou uma hospedagem ao ar livre para caminhoneiros e carros com famílias - veículos que passavam pela região, mas que não puderam seguir viagem.
Enquanto isso, a chuva era cada vez mais forte. Por um milagre, conseguimos locar um apartamento em cima de uma casa de festas. Após o sinal de telefone, o fornecimento de luz e de água também foi interrompido. Na primeira madrugada, ninguém da equipe dormiu. Além do temporal incessante, a movimentação nas ruas era grande: carros acelerando, gritos de moradores, vizinhos pedindo ajuda para a proprietária da casa de festas, famílias buscando abrigo. Eu, o cinegrafista e o motorista juntamos 49 reais em dinheiro. Sem luz ou internet, o cartão era um item sem utilidade. Após enfrentar uma fila gigantesca, compramos num dos poucos mercados abertos o que foi possível: 1 pack de água - que já estava racionado, 1 pacote de pão, frios e biscoitos - o suficiente para uma ou duas refeições. “
“A comunicação na cidade era quase inexistente. ‘Quase’ porque havia uma fábrica de sorvetes com um aparelho de Starlink (internet por satélite) e um gerador de energia. Em questão de minutos, a empresa virou a base de operações da prefeitura, da defesa civil, dos bombeiros e da polícia. Um motorhome do proprietário Aldair Baldissera serviu de dormitório e refeitório para socorristas. A empresa também cedeu a escassa internet para a nossa equipe, pelo menos para gerar as gravações e reportar o que a região vivia naquele momento. Trabalhávamos enquanto o carro de som circulava, avisando que uma enchente catastrófica estava por vir. No dia 2 de maio, ouvimos da rádio um alerta do governo estadual que nos deixou apavorados. Num pequeno radinho de pilhas, a informação de que uma barragem poderia romper e elevar o rio Taquari em até 7 metros. A nossa equipe - em pânico - fechou as malas e foi até um ponto alto da cidade para aguardar. Bairros inteiros foram evacuados. Famílias choravam carregando o que podiam levar nas mãos. Felizmente, não passou de um susto. Aos poucos, já éramos conhecidos na cidade. Comerciantes passaram a vender fiado para nossa equipe, e todas as despesas foram quitadas posteriormente.” “Se não fosse esta relação de confiança, ficaríamos sem gasolina e alimentação. Somente no dia 4, parte do abastecimento de luz foi restabelecido no município. Nesse dia, conseguimos hospedagem no hotel Di Marco, no Centro de Encantado. Com poço artesiano e caldeira, finalmente pudemos tomar um banho. Nunca dei tanta importância a coisas básicas do nosso dia a dia.
Quando a água começou a baixar, o cenário era até difícil de descrever. Dizer que parecia um filme apocalíptico não é exagero. Fomos a primeira equipe de TV a acessar Roca Sales. A antiga cratera aberta pelo rio Taquari em setembro de 2023 estava três vezes maior. As pessoas caminhavam pelas ruas sem rumo, desnorteadas. Prédios novos haviam ruído. Falar em ‘cena de guerra’ é até ameno. As cenas vistas com o passar dos dias nos deixaram de certa forma anestesiados. É muito desgraça junta. Não há coração que aguente. A gente segura o choro, embarga a voz e segue em frente. Ao acessar o distrito de Jacarezinho, fomos abatidos por um sentimento de total desesperança. Parte da localidade estava coberta pela lama. Casas haviam desaparecido. Foi neste cenário que avistamos um cachorro imóvel atolado. Não sabíamos se estava vivo ou morto. Paramos o carro e pedimos ajuda. Voluntários resgataram o animal. Ele estava vivo, mas bem debilitado. Ali eu caí em choro, como a gota d’água de tantos dias segurando a tristeza acumulada. Retornamos a Porto Alegre apenas no dia 6 de maio por um caminho cheio de desvios. Uma viagem de 2 horas se transformou em 8 horas. Para onde apontávamos o olhar, havia destruição. Parecia que o Estado tinha sido alvo de um bombardeio. Na chegada à capital, pela RS 040, presenciamos uma espécie de fuga coletiva em direção ao litoral gaúcho. A volta para casa teve uma tensão a mais: a casa da minha mãe também havia sido inundada no 4º Distrito. Enquanto isso, meu marido auxiliava nos resgates. A cabeça e o corpo não descansavam. Ou era o trabalho ou era a vida pessoal. Durante um mês, vivíamos todo dia o mesmo dia um pesadelo. Na reportagem, circulei pelo Centro Histórico de Porto Alegre de barco e sobrevoei a Região Metropolitana que mais parecia um lago gigante. Presenciei perdas incalculáveis, empresas destruídas, lares levados pela água, e lágrimas… muitas lágrimas. Em maio de 2024, não existiu sexta-feira nem a felicidade de um fim de semana. Poucos saíram ilesos desta tragédia. A tristeza era geral. Ninguém estava bem.”
“Fazer terapia foi obrigatório, tanto que a emissora ofereceu aos funcionários. Aos poucos, o impossível aconteceu. O sol voltou a brilhar pelos pampas. A água começou a baixar, dando início a (longa) etapa de reconstrução - uma injeção de ânimo coletiva. Mas as marcas desta catástrofe seguem no dia a dia, assim como a insegurança de reviver tudo outra vez. Este medo nos move a não esquecer o episódio e a cobrar a ajuda necessária a quem perdeu tudo e ações efetivas de prevenção a esses desastres.”
REDE SOLIDÁRIA AOS GAÚCHOS
Mutirões se prontificaram a amparar quem perdeu tudo por meio da solidariedade vinda de diversos pontos cardeais do mapa. Carretas com toneladas de mantimentos de outros estados e países transportaram água, alimentos, rações para animais, agasalhos, colchões, materiais de limpeza, remédios, botes e jet-skies para resgates. Outro auxílio importante aconteceu através da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que enviou 18 bombas flutuantes para a drenagem da água. O socorro veio, também, de médicos, enfermeiros, veterinários, surfistas, navegadores náuticos, psicólogos, cozinheiros, que atravessaram estados e fronteiras internacionais para atuar na linha de frente do enfrentamento dos problemas, nos abrigos e no suporte aos voluntários.
E as redes sociais fizeram um papel de divulgação potente, multiplicando mobilizações e ações de todos os tipos, como forma de disseminar formas de amparar, seja em serviços, produtos, logística, dinheiro, tutoriais. A exemplo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, que disponibilizou desenho e montagem de grandes rodos em madeira, úteis para faxinas de ambientes com muita lama, além de acadêmicos que se empenharam na confecção das peças que foram doadas em lotes para comunidades.
Parcerias se formaram. E foram centenas de iniciativas onde quem tem o insumo colabora com quem tem a técnica ou a tecnologia para produzir algo, como empresas têxteis na fabricação de agasalhos. É o caso da Biamar, de Farroupilha/RS. A malharia confeccionou 12.000 cobertores usando matéria-prima própria e de fornecedores de fios. Para isso, a empresa adaptou a linha de produção, dedicando uma célula de teares para fabricação exclusiva de cobertores, ampliando a capacidade se comparada ao processo manual de unir retalhos que fazia desde a enchente do ano passado. Na estampa, palavras de afeto junto ao desenho do mapa do RS. Além dos cobertores, a marca também estruturou a produção de luvas, meias e toucas exclusivamente para doação. “O inverno sempre moveu a Biamar. Naquele momento, ele nos moveu em direção a acalentar ainda mais nosso Rio Grande do Sul, em meio à tragédia que vivemos”, enfatiza Suélen Biazoli, empresária.
Até quem perdeu sua moradia se voluntariou para auxiliar nos abrigos temporários nas universidades – Ulbra, em Canoas, com cerca de 8 mil pessoas; Unisinos, em São Leopoldo, com aproximadamente 2 mil pessoas -, apenas para citar alguns. Ginásios de esportes e grandes áreas cobertas da Grande Porto Alegre receberam famílias, além dos especialmente montados para acolher animais.
Entidades e comunidade criaram forças-tarefas de recebimento e distribuição de donativos, arrecadação de dinheiro, compras, tudo isso associado a uma complexa logística em razão de estradas de acesso aos municípios e ruas estarem destruídas, alagadas ou parcialmente viáveis para deslocamentos. O espaço aéreo deu lugar a voos diários sucessivos de helicópteros militares e civis, tendo como bases campos de futebol e Base Aérea de Canoas, que ampliou os serviços para atender a decolagens e aterrissagens de viagens comerciais.
ARQUITETURA DO BEM
Sensibilizados com os danos causados pelas chuvas e inundações em escolas da rede pública na capital gaúcha, o coletivo Arquitetos Voluntários, formado por profissionais de diversas áreas do conhecimento - arquitetos, engenheiros, designers, advogados, publicitários -, uniu esforços, técnica, experiência e muita vontade de reerguer áreas de ensino fortemente prejudicadas, abraçando a Missão Reconstrução RS. Para se ter uma ideia, 14 escolas municipais de Porto Alegre tiveram suas atividades paralisadas nas sedes, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação (Smed). Entre as instituições beneficiadas com a atuação do coletivo, três foram reabertas de um total de seis projetos programados. Relevante salientar que a execução dos trabalhos é proveniente de doações de materiais e de dinheiro. Para quem deseja realizar doações, pois estão previstos mais três novos projetos, acesse o perfil @arquitetosvoluntarios.
Atuante desde 2016, a DU99 se propõe a realizar ações sustentáveis de ressignificação de espaços sociais em apenas um dia. No episódio climático de maio de 2024, lançou a campanha A GENTE [RE]FAZ visando recuperar recintos comunitários, ONGs, associações, escolas e áreas degradadas. Atingiram a marca de 20 ações em 2024, com apoio de 24 empresas e instituições, e milhares de itens recebidos, com doação não só de empresas como de pessoas físicas, que foram utilizados nas transformações promovidas. A Associação dos Deficientes Visuais de Canoas, a Fundação Fé e Alegria, a Escola Porto Alegre e a Casa Lar da Fundação Pão dos Pobres estão entre as instituições beneficiadas pelas mãos de 640 voluntários. A parceria bem-vinda das doações materiais e financeiras foi primordial para a realização do trabalho. Para saber mais sobre as ações, formas de se voluntariar e doar, acesse @dunoventaenove
Ao ver as inúmeras necessidades das semanas fatídicas da enchente, um grupo de arquitetos, designers e decoradores se mobilizou, atuando na linha de frente dos resgates em Canoas, Eldorado do Sul e Porto Alegre no início de maio. O trabalho consistiu em localizar pessoas desaparecidas, identificar locais com pessoas em perigo e repassar essa informação a amigos e autoridades competentes. Foi uma semana em que todas as ações foram concentradas em salvar, ajudar, buscar cobertores, conseguir comida, levar água. Ao todo, realizaram 1.187 resgates de vidas. E nisso criaram o @arquitetos_ designers.unidos Ð Loucos de Amor!, como forma de ampliar a rede humanitária, para captar bens, dinheiro, serviços e mão de obra para quem precisasse. E nessa articulação conjunta proporcionaram a mais de 700 famílias itens em agasalhos, água, alimentos, brinquedos. A cada semana, novas demandas surgiam, e a iniciativa de adotar 17 famílias que perderam absolutamente tudo. As atividades do coletivo também foram na limpeza, com produtos doados por empresas parceiras. A empreitada foi desafiadora. Uma força-tarefa de 60 dias, mas gratificante pelo seu propósito.
TURISMO E EVENTOS RENASCEM
Quem vivenciou a tragédia de maio, como o setor de turismo e eventos, sabe bem o que é passar novamente por uma situação em que não há motivação para celebrações sociais e corporativas, ainda mais com a experiência da pandemia do Coronavírus na memória recente. Desta vez, quando não eram os espaços alagados, os eventos foram sendo cancelados, numa forma de empatia com o sofrimento de milhares de pessoas e um aeroporto internacional fechado, agonizando negócios (reaberto somente em 21/10). O Instituto RSnasce, coletivo de mais de 300 empreendedores, empresas, entidades, prefeituras, tem por objetivo captar recursos privados para retomar o turismo e os eventos do Estado. Para se ter uma dimensão dos efeitos da enchente, dados do instituto registraram 41,4% dos municípios com hotéis danificados; 50,2% tiveram a rede gastronômica afetada; 71,2% com danos em vias de circulação de visitantes.
Entre as ideias materializadas, o “Festival Gaúchos”, ocorrido de 19 a 29 de setembro, em Gramado. “O projeto foi desenhado para ter esse simbolismo de retorno da economia e marcar, nos próximos anos, um novo momento rico de fluxo turístico neste mês considerado de baixo movimento”, salienta Vinicius Garcia, presidente do Instituto RSnasce, sócio-diretor do Grupo Austral, vice-presidente do Porto Alegre Convention & Visitors Bureau. A capital também contou com outros eventos com a chancela do RSnasce, como o “Festival Destemperados”, dia 14/9, no Cais Mauá, em que os recursos arrecadados foram destinados para a área de gastronomia do 4º Distrito. Para saber mais como fazer parte, acesse @rsnasceoficial
NOVA BASE PARA REERGUER A VIDA
Ao acompanhar as notícias sobre as enchentes de 2024, com episódios devastadores no interior do Estado ainda em setembro e novembro de 2023, o Grupo Front, formado por empresários dos mais diversos segmentos do Brasil e dos Estados Unidos, reuniu recursos para a construção e doação de residências a famílias do Vale do Taquari. Em parceria com a empresa Soprano, de Caxias do Sul/RS, e projeto executado pela empresa Mademape, do Paraná, foram entregues as primeiras casas em 27 de julho deste ano. Cada uma conta com 21,96 m², quarto, banheiro, sala e cozinha conjugados, e são mobiliadas. O terreno, doado pela prefeitura, fica no bairro Novo Horizonte. As famílias contempladas estavam em abrigos, sendo preferencialmente idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade social, selecionadas pelo poder público.
Para Tiago Esmeraldino, vice-presidente do Grupo Front, CEO na FE Advogados, escritório especializado em tributação para empresas, proporcionar um novo lar a quem perdeu tudo foi acalentador: “Ver a alegria de dez famílias de Arroio do Meio ao receberem suas novas casas foi uma recompensa indescritível para o Grupo Front. Eu reforço a seguinte ideia: quem recebe é aquele que doa. Idealizamos e executamos um projeto com a concepção de um lugar onde nós desejaríamos morar. Cuidamos de cada detalhe, das cortinas nas janelas ao tapete no banheiro; do caminho a cada casa ao paisagismo e gramado que cercam as residências. Meu desejo é de que as famílias que receberam cuidem com o mesmo amor e carinho com que cada item foi pensado, pois entregamos um lar completo e afetuoso.”O mesmo sentimento é destacado por Paulo Peres, presidente do Grupo Front, CEO na PP Group, empresa especializada em desenvolvimento imobiliário: “Cada lar entregue representa mais do que madeira e telhas; é a reconstrução de sonhos e a renovação da esperança.