“ENVELHECER É ALGO FASCINANTE. QUANTO MAIS VELHO VOCÊ FICA, MAIS VELHO QUER FICAR”,
Keith Richards, 79 anos, cantor e compositor da banda Rolling Stones
A silver economy (economia prateada), segmento que envolve o consumo de produtos e serviços adquiridos por pessoas acima dos 50 anos, é considerada a terceira maior atividade econômica do mundo. Isso representa, em dados globais, US$ 7,1 trilhões anualmente, divulgado em março de 2023 pelo Sebrae.
E o mercado nacional tem olhado para este segmento, ainda que a passos lentos, se comparar com a velocidade que ele tem crescido, como aponta a assessora sobre o Envelhecimento Saudável da Organização Pan-Americana da Saúde, OPAS, Patrícia Morsch, divulgado pelo site das Nações Unidas: “O caso do Brasil é muito relevante, porque o Brasil é um país das Américas que apresenta um envelhecimento populacional que é um dos mais rápidos da região. Atualmente, conta com cerca de 14% de pessoas idosas na população total. Mas se espera que, em poucos anos, esse percentual aumente até mais de 20%. No ano de 2030, o Brasil vai ter mais pessoas idosas que jovens com menos de 15 anos”.
CONECTADOS
No livro, “Economia Prateada, como converter a longevidade em oportunidade”, um compilado do Clube da Longevidade, a narrativa traz como dado que mais de 60% da população idosa brasileira acessa apps e sites diariamente. Lembrando que, pelas leis brasileiras, idoso é o cidadão com idade igual ou superior a 60 anos. Contudo, antes de o delimitador 60 dizer que se chegou a uma nova fase da vida, o mercado, à sua maneira, é excludente quando o assunto é oportunizar vagas formais de trabalho. E foi pensando nisso que o empreendedor social Mórris Litvak, 40, engenheiro de software, lançou o Maturijobs, no ano de 2015. O empresário deu um depoimento à Onne&Only sobre como tudo começou.
“Atuei como voluntário numa casa de repouso para idosos nos Estados Unidos, em 2011. Eu os ajudava a entrar no computador, internet, essas coisas. Lá comecei a me interessar pelo tema. Em 2013, faleceu minha avó Keila, uma grande inspiração, porque ela trabalhou até os 82 anos. Uma pessoa extremamente ativa. Pegava ônibus e metrô todos os dias aqui em São Paulo. Até que um dia, ela caiu na calçada, se machucou, não chegou a quebrar nada, mas bateu o rosto e teve aquele susto, aí resolveu parar de trabalhar. Para ela, a partir do momento que passou a ficar em casa o dia inteiro sem fazer nada, a saúde decaiu muito. Quando faleceu, refleti muito sobre essa história que acompanhei de perto. Estudei sobre envelhecimento e longevidade. Em 2014, criei a iniciativa social Conectando Gerações, onde jovens trocavam experiências e atenção com idosos por meio de bate-papos pela internet. Passei a conversar mais com o público 50+, e percebi que a questão laboral nessa faixa de idade era bem recorrente pela falta de oportunidades, bem como aqueles que gostariam de exercer uma atividade profissional e sentirem-se produtivos. Conversei com executivos e profissionais de RH, e a questão do preconceito etário existente no mercado de trabalho foi uma das abordagens. Abracei a causa e criei a Maturijobs”. A plataforma é um espaço digital onde empresas de todo Brasil cadastram vagas para público 50+, e os candidatos podem enviar seus currículos. Atualmente, há 753 empresas parceiras para estes perfis sêniores, um banco de talentos com 220.000 profissionais cadastrados, 55.400 na faixa 50+ capacitados, e 7.800 recolocados.
NUNCA É TARDE
Conversas sobre questões comportamentais que envolvem o público 50+ têm ganhado visibilidade em plataformas como o Instagram, ajudando a promover reflexões, debates, troca de ideias, indicação de produtos e serviços, e o principal: não temer a questão etária, pois ela faz parte do processo e pode ser rica de aprendizados e renovação de repertório, seja sobre moda, saúde, beleza, relacionamentos. Assuntos como menopausa e sexo na terceira idade, por exemplos, nunca foram tão disseminados, em contraponto a velhos tabus referentes a temas abordados apenas em consultórios. Outras expressões ganharam ressonância graças ao digital, como o etarismo, que trata sobre preconceitos em relação a faixas etárias, seja sobre ser “jovem demais” ou “velho demais” para realizar algo. Influenciadoras como Adri Coelho Silva, do @vivaacoroa; @patriciaparenza; @consueloblocker; @eucrisguerra; @silviaruiz_ ageless; Fernanda Ribeiro e Natalia Dornellas, do @asperennials; apenas para citar alguns nomes, são vozes que ecoam nas redes sociais e podem ser inspiradoras.
A autora de obras literárias consagradas, como “Paula” e “A Casa dos Espíritos”, a escritora chilena Isabel Allende (1942) está no terceiro casamento, numa união que começou nos seus 75 anos. E foi a internet a responsável pelos primeiros flertes vindos de um fã na sua faixa de idade. Estava separada há pouco mais de um ano, quando se perguntou - Por que não? Não há amor sem risco -, já havia sido julgada por separar-se depois dos 70. Se o tempo urge para o amor, a web colabora com aplicativos direcionados para este perfil de público, como OurTime, Stitch e Senior Match.
Até bem pouco tempo a expressão “melhor idade” para os 60+ era traduzida como aposentadoria e descanso. No entanto, outras verdades são reveladas, e elas podem ser mais profundas: o sentimento de produtividade vazia, se não for canalizado para um hobby, um trabalho voluntário, uma atividade que seja prazerosa, pode desencadear questões mentais como depressão, isolamento social e perda de ânimo pela vida. E a indústria da construção civil tem olhado para esse recorte da população, criando condomínios exclusivos para idosos, com mobiliário desenvolvido especialmente para a circulação e segurança, áreas de convívio com natureza presente, espaços de socialização, numa proposta que remete a uma hotelaria de luxo, como o Vintage e o Magno Moinhos, em Porto Alegre. Contudo, nem todos podem fazer parte de um condomínio premium, ou preferem uma estrutura personalizada o qual se sintam mais à vontade com seus pares, como as repúblicas de idosos. Geralmente, ela é uma grande casa ou terreno com casas, para que amigos da terceira idade, - solteiros, viúvos e casais -, morem juntos e dividam atribuições neste espaço. É uma forma de um cuidar do outro e manter esses laços que foram construídos ao longo do tempo. Um pertencimento em forma de acolhimento que gera confiança e segurança.
INSPIRAÇÕES
As facilidades tecnológicas têm propiciado trabalhar remotamente em qualquer lugar do planeta, via home office ou num café em um país diferente a cada mês, por exemplo. Ser nômade digital é uma realidade não apenas para os mais jovens. A idade produtiva laboral é uma questão pessoal, principalmente quando lembramos de empreendedores como Henri Nestlé, que inventou a farinha láctea aos 50 anos, ou Charles Flint que criou a IBM aos 61 anos, bem como Ray Kroc, idealizador do McDonald’s, quando tinha 52 anos.
Nos tempos modernos, não raro, profissionais 50+ têm buscado o estilo globe-trotter, trabalhando como freelancer, expatriado para uma empresa ou dono do próprio negócio, com os pés no mundo. E os setores de imigração de alguns países têm incentivado a presença desses perfis, com vistos especiais, a exemplo da Argentina, Croácia, Grécia, Bahamas, Alemanha, Costa Rica, Indonésia, Colômbia, França, Itália, Portugal e Espanha, mas cada um com seu regramento próprio.
Quem tem inspirado os internautas de todas as idades a levarem um estilo de vida que concilia trabalho remoto e viagens é o casal Ivane Fávero, 54, e Rômulo Freitas, 71, do blog @viajantemaduro. Ela, turismóloga e consultora em Turismo, ele, advogado tributarista, já carimbaram seus passaportes em 22 países, além de mais de 20 estados brasileiros, trazendo dicas de passeios, hospedagens, restaurantes e belas paisagens que podem ser acompanhadas pelo blog e Instagram. A base do casal é a cidade de Garibaldi (RS), mas a estrada faz parte da rotina. “Em 2023, fizemos algumas viagens pela Serra Gaúcha, sempre aliando o trabalho. Depois fomos ao Panamá e Punta Cana, na República Dominicana, onde comemoramos o aniversário de uma das filhas, com quase toda família. Ainda visitamos Mendoza e San Juan, a convite do Turismo Argentina, que já é um trabalho. Também fomos para Florianópolis. Fizemos uma longa viagem de 55 dias por alguns países da Europa, como Itália, Grécia, Áustria, República Tcheca, Polônia e Eslováquia, sempre reservando algumas horas do dia, ou até uns dias inteiros para trabalhar. Depois voltamos a girar pelo RS, onde trabalhamos”, relata Ivane.
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