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SOLUÇÕES - PREVENIR NO LUGAR DE REMEDIAR, SE AINDA FOR POSSÍVEL

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A pauta das mudanças climáticas vem se intensificando de forma midiática e preocupante à medida que a mãe natureza tem respondido às ações do homem por meio de desastres que estão impactando a geografia do planeta e o próprio homem. A impressão que se tem é que Gaia resolveu se rebelar por todos esses anos de descaso, desrespeito e abuso dos recursos naturais.

     Eventos como seca na Amazônia, neve no Saara, derretimento de geleiras que não retomam seus volumes originais, chuvas intensas e contínuas, ciclones em áreas nunca antes atingidas, tsunamis, enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul e na região espanhola de Valência, vegetação surgindo em zonas anteriormente ocultas por neve, aumento da temperatura no planeta são parte dos fatos registrados, sendo que alguns têm se repetido com frequência. Salientando que na recente Conferência do Clima - COP29, realizada em 11 a 22/11, na cidade de Baku, Azerbaijão, que reuniu quase 200 países representados, foi confirmado o aumento da temperatura global que ultrapassou 1,5 graus ao longo de um ano (mediação entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024).

Ainda é possível reverter cenários? A resposta pode ser sim para determinados casos. E há aqueles que estão trabalhando na regeneração quando isso é possível. Quem tem desenvolvido um sistema de reflorestamento, desde 1998, de uma área de 600 hectares no interior do Brasil é o fotógrafo Sebastião Salgado e a esposa Lélia, mais precisamente na Fazenda Bulcão de sua propriedade, na cidade de Aimorés. A grande área tinha pouca vegetação, com colinas quase áridas. Hoje é mata fechada graças ao plantio de trezentas mil mudas de espécies de árvores de Mata Atlântica que compõem esse oásis, fazendo da Bulcão uma referência mundial, além de ser base da organização não-governamental Instituto Terra, a qual forma profissionais especialistas em Restauração Ecossistêmica.

     As florestas ajudam no equilíbrio do clima, refletem calor, ajudam a reter a água da chuva, além de toda biodiversidade associada a elas que faz com que ciclos naturais se perpetuem e mantenham os seres vivos.

Fazenda Bulcão - Fotos: Instituto Terra

CIDADES-ESPONJA

     Olhar esse horizonte de recuperação promovido pelo casal Salgado na Bulcão traz alento, pois é uma realidade possível com persistência e paciência, pois o tempo é senhor. Contudo, as ações necessitam ser realizadas agora. Prevenir, ao invés de remediar, prepondera e urge nestas duas primeiras décadas do milênio, uma vez que o alerta foi dado pelos ecologistas quando já se falava no buraco da camada de ozônio (faixa de gás na estratosfera que protege a vida na Terra dos raios ultravioleta emitidos pelo Sol) ainda nos 1970. Afinal, a natureza se interliga. O que acontece na Amazônia ou no Ártico repercute em outros continentes.

     Entre as ideias inspiradoras que podem servir como freio, solução ou amenizar consequências de intempéries estão as cidades-esponja, conceito este que surgiu como proposta para fortalecer a resiliência urbana. “Uma cidade-esponja é projetada para absorver, armazenar e gerenciar eficientemente a água das chuvas e inundações, reduzindo assim o risco de enchentes e melhorando a sustentabilidade ambiental.”

Estratégias como telhados verdes, pavimentos permeáveis, áreas de infiltração e parques de retenção são implementadas para mitigar o impacto das mudanças climáticas e promover um ambiente urbano mais adaptável e seguro. Para implementar o conceito de cidade-esponja de forma eficaz, é necessário conter ou reverter o desmatamento nas encostas, restaurar as matas ciliares, manter a cobertura vegetal das encostas e topos de morro, recompor as planícies de inundação e adotar práticas de conservação de solo nas áreas agrícolas. Além disso, é fundamental combinar a infraestrutura verde com soluções da engenharia tradicional para criar um ambiente urbano menos vulnerável às mudanças climáticas”, diz o trecho do artigo “Por que a tragédia do RS nos obriga a pensar em cidades resilientes?”, publicado pelo Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis – OICS, plataforma que tem apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (órgão criado em 1972 após a primeira grande conferência internacional sobre questões ambientais, realizada em Estocolmo, na Suécia).

     Entre os exemplos de cidades-esponja no mundo estão Nova York, nos Estados Unidos; Berlim, na Alemanha; Copenhague, na Dinamarca; Jinhua e Xangai, na China. No Brasil, a capital paranaense, Curitiba, tem investido na criação de parques que propiciam armazenamento da água da chuva, com apoio de instituições públicas e privadas.

New Orleans - 2005 - Foto: Wikimedia

GAÚCHOS NO RADAR

     Os episódios climáticos no Rio Grande do Sul, com enchentes intensas em 2023 e mais força em 2024, trazem à memória os acontecimentos na cidade norte-americana de New Orleans, que ficou 80% submersa em razão do furacão Katrina, em 2005. Para a reconstrução - demorada, mas efetiva até o momento -, foram mais de US$ 14 bilhões vindos de doações e dinheiro público aplicados, em grande parte, no sistema de proteção contra furacões e inundações.

Para o estado gaúcho, grupos de trabalho se formaram, bem como a contratação de consultores internacionais para orientar sobre possíveis soluções no contexto ambiental. Mas não apenas a questão dos impactos naturais necessita ser revista, a própria economia precisou e ainda carece de atenção. Ainda em julho de 2024, foram apresentadas propostas de soluções aos municípios atingidos pela enchente Ð 471 (497 cidades gaúchas compõem o Rio Grande do Sul), a partir de um convite da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (SICT), principalmente para ajudar as prefeituras a terem um direcionamento, ajudando na reconstrução. E elas estão cadastradas no Observatório de Inovação, disponível no site https://sict.rs.gov.br/painel-do-observatorio.

 

LIBERAÇÃO DE RECURSOS PARA RECONSTRUÇÃO

     De acordo com dados disponibilizados no Portal Transparência, do Governo Federal, atualizado em 21/11/2024, sobre investimentos destinados ao Rio Grande do Sul no amparo à população e aos governos estadual e prefeituras municipais, a liberação de créditos soma mais de 90 bilhões de reais, por meio de medidas provisórias de maio a outubro. [https://portaldatransparencia.gov.br/acoesrs]

     No entanto, após seis meses da enchente (novembro/2024), apenas quase metade da verba prometida para recuperar o Estado foi repassada, como informou o Painel da Reconstrução [https://gauchazh.clicrbs.com.br/especiais/painel-da-reconstrucao/dados-gerais/], onde podem ser acessados os andamentos.

Cidade de Jinhua - China - Foto: DivulgaçãoTuerenscape

     As iniciativas de regenerar realidades decorrentes das questões climáticas ainda estão presentes, pois há muito por fazer, principalmente no interior do Rio Grande do Sul. Um ponto importante não pode ser desconsiderado quando se olha para os recentes anos: o estado gaúcho é considerado líder em inovação no ranking de competitividade dos Estados, de acordo com pesquisa realizada pelo Centro de Liderança Pública (CLP) em parceria com a empresa Tendências Consultoria, divulgada em agosto de 2024 por meio do site do Governo do Estado (a primeira colocação nos anos de 2021 e 2022, e a segunda em 2023). No entanto, há aspectos apresentados pelo economista Aod Cunha, no evento “Tá na Mesa”, em agosto de 2024, promovido pela Federasul para empresários (parte deles com seus negócios atingidos pelas enchentes e responsáveis por milhares de postos de trabalho), que apontam decrescimento demográfico, evasão de talentos, entre outros dados, comparando com Santa Catarina. Aod salientou as razões, como diminuição do desenvolvimento do estado, dívida pública, sendo que o principal gargalo na sua avaliação é o ensino, perdendo posições no ranking das fases entre ensino fundamental e médio. Um quadro bem diferente de décadas atrás, quando o estado era referência. E a educação é um aspecto que leva tempo para verificar sua relevância quando o jovem chega ao mercado de trabalho, conclui curso superior ou empreende. Portanto, a base educacional também urge, pois ela vai levar à compreensão das necessidades essenciais, onde tudo se conecta: saúde, segurança, moradia, trabalho e qualidade de vida para todos.

Parque Sanya Mangrove em Hainan - China - Foto: DivulgaçãoTuerenscape

MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA PAUTA DA EDUCAÇÃO

     Olhando para questões práticas no contexto das mudanças climáticas, o Pacto Global da ONU traz entre seus objetivos de desenvolvimento sustentável – ODS a “Ação Contra a Mudança Global do Clima”, que tem como síntese “Adotar medidas URGENTES para combater as alterações climáticas e os seus impactos”. Ela merece o realce, inclusive, para chamar a atenção de empresas e entidades que não fazem parte do Pacto. Dentro dessa ODS, a questão da Educação compõe as medidas necessárias, como no item 13.3 “Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce da mudança do clima”. Olhar para o todo e não apenas para si é primordial nesses tempos em que a sustentabilidade do planeta impera.

O QUE O ESTADO TEM FEITO PELO

RIO GRANDE DO SUL

     O assunto enchente repercute e foi levado ao Painel “Recuperação e Resiliência: o caminho do Rio Grande do Sul na superação dos desafios climáticos e na construção de infraestruturas resilientes”, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) na COP 29, no Azerbaijão.

     Na apresentação, dados como mapeamento de 195 equipamentos públicos prejudicados (escolas, postos de saúde, espaços culturais, áreas de lazer), sendo que 173 receberam reparo e estão em operação. Para obras complementares, 132 já têm projeto contratado, 63 estão em obras e 46 foram concluídos. Para a recuperação do sistema de proteção contra cheias, o secretário municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), Germano Bremm, representando o Governo do Estado e a Prefeitura de Porto Alegre, explanou sobre o mapeamento de 114 obras necessárias, casas de bombas, fechamento de comportas e reconstrução de diques, que têm valor estimado em R$ 520 milhões. Associado a isso, “mesmo com a necessidade de obras, 105 seguem operando”.

 

     As ações abordadas pelo secretário na conferência internacional fazem parte do Plano Rio Grande, criado no final de maio e ainda em desenvolvimento. Ele é dividido em três eixos de atuação:

 

Emergencial:

Ações de curto prazo que envolveram restabelecimento de serviços essenciais e medidas de recuperação, como limpeza, realocação habitacional temporária, desobstrução de vias e gerenciamento de doações.

 

Reconstrução:

Médio prazo, focadas na recuperação da infraestrutura logística rodovias, portos e aeroportos -, escolas, unidades de saúde, prédios e equipamentos públicos, presídios e terminais de transporte metropolitano.

 

RS do Futuro:

Reconstrução da infraestrutura de longo prazo, fortalecimento da economia local, aumento da eficiência dos serviços públicos e das estratégias de resiliência climática, intensificando projetos relacionados à sustentabilidade e aos compromissos ambientais do Estado.

 

E o leitor pode acompanhar as ações por meio do site

www.planoriogrande.rs.gov.br.