Artes Visuais

BRASILIDADE URBANA

BRASILIDADE URBANA

César Prestes* Foto: Eduardo Carneiro
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MARCOS BAZZO    

    Imagine um grande espaço circular de terra batida formado por um conjunto de ocas e, no centro, índios em um ritual de danças e sons reforçados pelos adereços presos no corpo como percussão de músicos. Temos em mente cerimônias indígenas de iniciação, colares, cocares e coroas carregados de significados quando vemos cada peça de Marcos Bazzo. E não estamos enganados: suas criações têm conexão com objetos e rituais de várias tribos. A boa notícia é que tenho feito as conexões necessárias com o artista como seu marchand e podem ser compradas peças prontas ou em processo de confecção, ou seja, por encomenda e por meu intermédio.

    Eu gostaria de apresentar este artista por meio de suas obras, como esta, que faz parte da série Tribos Brasileiras. O artista busca inspiração na etnia com aldeias distribuídas entre o Mato Grosso e o Pará, numa área tão grande quanto a Áustria. Tudo tem um sentido: a disposição e as cores das penas do cocar não são aleatórias. Além de lindo, o adereço indica a posição de chefe dentro do grupo e simboliza a própria ordenação da vida em uma aldeia em forma de arco, uma grande roda a girar entre o presente e o passado.  A cor mais forte é o vermelho, representa a casa dos homens, que fica bem no coração da aldeia. Penas de araraúna, araracanga, papagaio, urubu-rei, entre outras, são obtidas durante as caçadas.  A plumária Kayapó é usada essencialmente durante os grandes rituais de nomeação e iniciação masculina, no casamento, na esteira e paramentação do morto durante os ritos de passagem. Em geral, os enfeites de pena se relacionam com a vida cerimonial em oposição ao cotidiano, quando prevalece a pintura corporal como único adorno do corpo.

 
Referência Kayapó
Obra da série Tribos Brasileiras
Inspiraçãona etnia Kaigang,presente empartedo Suldopaís

Vale fazer referência à obra originada na inspiração dos nativos da etnia Kaingang que ocupavam boa parte do sul do Brasil, a partir do rio Tietê, em São Paulo, até o rio Ijuí, no oeste do Rio Grande do Sul. Também chamados de “coroados” pelos colonizadores, ostentavam uma grande coroa de penas coloridas. Seus diademas eram confeccionados com penas de aves da região como maritacas, araraúnas e papagaios. Os desenhos geométricos em vermelho e preto aparecem tanto em suas pinturas corporais como também nos curús – tipo de tecido feito a partir de urtiga brava – e cestarias. Estes elementos se somam para conceituar a obra do artista.

 

Carregadas de significado, as obras chamam a atenção também pela ampla paleta de cores. Conhecer a obra de Marcos Brazzo é uma experiência de conexão com nossas origens de uma maneira contemporânea, por meio da expressão da sua arte. Sua técnica remete ao fazer manual, à tecitura ancestral, agregando ainda mais significado às peças que podemos levar para dentro de nossas casas. É como se ele revisitasse penas e fibras de animais e plantas da mata e cabe anos adotarmos as obras como um ato de reverência aos povos que nos antecederam no território que ocupamos.

 
Paletade cores vaidos tonsneutros à explosãodas cores primárias - Fotos: Divulgação

Cézar Prestes, gestor cultural, marchand e curador. Teve atuações como Secretário de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico, Museus e Arquivos do RS, Museu de Arte do RS Ado Malagoli (MARGS), diretor e curador do Centro Cultural Aplub e das suas galerias Grafite e Cézar  Prestes Artte. Entre suas ações, como diretor do MARGS, realizou a exposição Arte na França, que atraiu 37 mil visitantes do Brasil e do exterior.
@cezarprestes