Desde a sua descoberta ou invasão, dependendo de que lado se conta nossa história, o Brasil semeou inúmeras virtudes e, também, cultivou gravíssimos defeitos. Convivemos desde sempre com desigualdade social, privilégios, corrupção e impunidade. Eles estão entranhados na cultura e nas instituições. É importante avaliar o impacto destas chagas para o agravamento da pobreza, fome, desemprego, educação e saúde. Não existe outra forma de se querer mudar esse status quo atávico que não seja através de um debate público sério, ético e assertivo, sem a interferência do grande mal chamado “demagogia”. Não faz muito tempo, a sociedade pensou que iria haver mudanças. No mínimo, a inibição do crime organizado no desvio de dinheiro público, quando pessoas consideradas importantes, com status político, riqueza e influência social foram investigadas, julgadas, condenadas e iniciaram o cumprimento de penas em consequência de seus crimes. O Brasil viveu uma onda de esperança quando acreditou que era possível vencer esses cânceres - a corrupção, a impunidade e os privilégios. Essa esperança inundou o Brasil e teve reflexos no mundo por causa do Judiciário, do Ministério Público, da imprensa e do apoio popular. Mas logo emergiu um novo Salvador da Pátria, depois outro e mais outro... e nos perguntamos por que, sempre, a demagogia faz de refém a alma brasileira? Um Brasil saudável não pode seguir os passos do que de pior foi praticado em todos os sistemas totalitários: a divisão da sociedade; a manipulação da opinião pública; o culto à personalidade, a demagogia e o populismo; a falta de transparência dos gastos públicos; o assassinato de reputações; e a polarização pura e simples, com a falta de discussões de ideias. A polarização é uma arapuca gigante. Te engole. Te cega. Cria bolhas sociais. Cria fake news. Devasta o bom senso, impede a boa discussão, a união, o acordo, a paz e o progresso. Basta de tentar aparelhar as instituições que sustentam nossa tão atacada democracia. Nenhum poder pode se sobrepor a outro. Chega de pavões das ideologias rasas. Chega de pavões e censuras de toga. Os movimentos populares devem, sim, pressionar sob a égide da Constituição. Nada além disto. Vide a conquista das democracias mais evoluídas do mundo. Para extirpar o dano da polarização, criar um ambiente honesto e civilizado, combater a pobreza e a desigualdade social, turbinar a economia, prover serviço público de qualidade, três medidas são fundamentais: acabar com a reeleição, extinguir o foro privilegiado e fazer esforços para aprovação da prisão em segunda instância. Isso tem que ser compromisso e precisa ser cobrado de modo contundente por todos nós que acreditamos no poder transformador da arte, cultura, educação e empreendedorismo. Temas, estes, que, como de hábito, fazem parte desta nova edição, que chega para enriquecer sua leitura e os seus melhores desejos, seja pela versão impressa, digital, redes sociais ou através dos nossos eventos que sempre nos aproximam. Afinal, melhor não ter razão. É bem melhor ter amigos. Marcelo Tovo