Quando nos propomos a elaborar uma matéria sobre a pior enchente, tragédia, catástrofe ou o nome que se queira dar para definir o que aconteceu no Rio Grande do Sul, fizemos isso tomados por um sentimento de profunda dor e indignação. Foi uma verdadeira catarse, com o objetivo de construir um documento histórico, uma memória afetiva, que jamais deverá ser esquecida. Outros eventos climáticos anteriores de larga escala já haviam sinalizado que algo muito terrível poderia assombrar os gaúchos. Muitas das vidas perdidas e todo o tipo de danos e perdas poderiam ter sido mitigadas. Faltou vergonha na cara, inteligência, planejamento, ação, celeridade, investimentos contínuos e específicos. Sobraram desculpas, burocracia, ineptos e demagogos de todas as esferas responsáveis. Sucessivos agentes públicos municipais, estaduais e órgãos federais sabiam o que deveria ser feito e negligenciaram, todos, sem exceção. Cabe, agora, a nós, sociedade civil organizada, fiscalizar e cobrar cada promessa de reconstrução e prevenção, cada centavo investido, cada obra ou ação realizada. As perguntas que se impõem: por que não cobramos antes da grande tragédia anunciada? Vamos esperar que outra aconteça? A sociedade organizada tem uma força colossal, tanto quanto a mãe natureza. Façamos uso dessa força, basta saber como empregá-la. Esta edição da Onne tem a pretensão de ser um singelo instrumento que eterniza, valoriza e enaltece cada gesto solidário do povo gaúcho e brasileiro, gente brava, heroica, que o mundo testemunhou. São relatos e registros de todos os tipos, onde o amor e a empatia pelo próximo nos trouxeram lindas lições. Afinal de contas, se existe algo de positivo que podemos tirar dessa dor imensurável é este legado de aprendizado. Que saibamos honrar a memória de amigos, familiares, comunidades e cidades inteiras devastadas. Sendo assim, fica o convite para a leitura desta publicação muito especial, pois, além dos sempre interessantes temas exclusivos que costumamos trazer, lhe convido para exercer a "katharsis", termo grego que significa purificação e limpeza, quando nos livramos de emoções negativas através de outras experiências artísticas ou emocionais. E isto, a Onne tem de sobra! Emocione-se, sem moderação.